Livro - O Tarô Mitológico de Juliet Sharman-Burke e Liz Greene

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O NAIPE DE PAUS

As Cartas Numeradas

A história de Jasão e os Argonautas e sua expedição à procura do Vclocino de Ouro c uma característica lenda heróica cheia de aven­tura e uma jornada corajosa ao desconhecido. Como a história é, na realidade, uma missão na qual o herói depende de suas faculdades além da vontade e do pensamento racional, a história de Jasão pode ser interpretada como uma descrição da imaginação criativa e de seu misterioso poder de provocar acontecimentos e de proporcionar soluções a partir dos níveis interiores que transcendem a nossa com­preensão consciente. Portanto, a história de Jasão é uma aventura específica que diz respeito ao tema central da imaginação humana.

A origem do Velocino de Ouro, o objetivo mágico da missão de Jasão, era a seguinte: Frixo e Hele, filhos de Atamas, que, por sua vez, era filho de Éolo e rei de Orcómenes, eram odiados pela ma­drasta Ino. Com suas próprias vidas sendo ameaçadas, eles fugiram montados em um fabuloso carneiro, presente de Zeus, o rei dos deu­ses. Esse carneiro era dotado de razão e de fala; ele tinha um velocino de ouro e podia voar. Durante a fuga, Hele caiu no mar, e o lugar em que caiu foi mais tarde chamado de Helesponto. Mas Frixo teve mais sorte e alcançou a região da Cólquida, no Mar Negro. Ele então sacrificou o carneiro a Zeus, o seu protetor, e ofereceu o Velocino de Ouro a Aetes, rei daquela região, que o pendurou em uma árvore e colocou um dragão para vigiá-lo.

Enquanto isso ocorria, em Iolkos, na Tessália, reinava o rei Pélias, que usurpara o trono de Eson, o seu irmão mais velho. O filho de Eson, Jasão, quanto pequeno, foi confiado aos cuidados do centauro Quíron para que ele o protegesse da ira de seu tio Pélias. Mais tarde, Quíron revelou a Jasão o segredo de sua origem e ele, imediatamen­te, foi ao tio e exigiu, por direito, o governo do reino. Pélias ficou assustado, pois um oráculo o havia advertido sobre um homem que o visitaria vestindo uma única sandália. E esse homem era justamente Jasão, que havia perdido uma de suas sandálias ao cruzar o rio. Por­tanto, Pélias prometeu a Jasão que concordaria com o seu pedido, mas com uma condição: que Jasão fosse à Cólquida e lhe trouxesse o Velocino de Ouro que pertencia ao santuário de Zeus, em Iolkos.

Por conseguinte, Jasão começou a construir um navio de 50 re­mos, o "Argo", no qual ele colocou um ramo do carvalho profético de Zeus. Ele juntou os heróis mais famosos, entre eles Castor e Pólux (os gémeos guerreiros), Héracles, Orfeu, o cantor, e o rei Teseu de Atenas, e esses destemidos aventureiros partiram em busca do fa­moso Velocino de Ouro. A viagem foi cheia de incidentes e eles foram obrigados a lutar contra monstros e os homens, assim como contra os elementos.

Finalmente, eles chegaram ao reino de Aetes, onde o Velocino de Ouro era guardado. Por sorte de Jasão, a filha do rei Aetes, a feiticeira Medeia, apaixonou-se por ele e o ajudou a vencer o dragão que vigiava o precioso troféu. O rei Aetes procurou impedir a fuga dos Argonautas com soldados ferozes que surgiram dos dentes do dragão que Jasão matara, mas os heróis conseguiram zarpar em seu navio, o "Argo", perseguidos de perto por Aetes. Medeia, que acompanhara Jasão e que não morria de amores pela família, cruelmente cortou seu irmão Absirto em pedaços e os espa­lhou pelo mar. Em sua dor, Aetes ordenou que a frota parasse para recolher os restos do corpo do herdeiro, e o "Argo" com sua tripula­ção pôde então seguir a viagem de volta para Iolkos sem esse per­calço.

Entretanto, a volta provou ser tão perigosa quanto a ida, e Jasão e seus companheiros tiveram de atravessar dois grandes e perigosos rochedos, Cila e Caríbdes, ao norte do Bósforo, cujas águas revoltas podiam esmagar um navio. Mas, finalmente, Jasão chegou a Iolkos com o Velocino de Ouro. Ali, ele descobriu que Pélias havia matado o seu pai Eson na certeza de que Jasão não voltaria de sua perigosa viagem.

Jasão vingou a morte de seu pai por meio de Medeia que, com seus feitiços, fez com que suas filhas o matassem. Em seguida, Jasão assumiu o reino de Iolkos. Mas a sua vitória provavelmente subiu-lhe à cabeça, pois, insatisfeito com um só reino, ele procurou outro - a coroa de Corinto -, casando-se com Creusa, a filha do rei Creon de Corinto. Isso fez com que Medeia se enfurecesse a ponto de vingar-se matando não somente Creusa, mas também os filhos que teve com Jasão.

Quanto a Jasão, alguns dizem que ele se enfastiou da vida e achou que o reino de Iolkos era um peso. Já velho e pensando constante­mente em seus dias de glória, ele ficava sentado à sombra do velho "Argo" que apodrecia. Um dia, a popa do navio despencou sobre ele, esmagando-o à morte.

O Ás de Paus

A carta Ás de Paus retrata um homem maduro de porte poderoso, barba e cabelos castanhos, uma coroa dourada na cabeça e uma túnica púrpura imperial. Ele está em pé diante de um cenário de altos picos nevados. Em seu ombro e descendo até o chão, a pele dourada de um carneiro. Em sua mão direita, ele segura o globo do mundo e, na esquerda, uma tocha acesa.

No Ás de Paus, encontramos novamente Zeus, rei dos deuses, o iniciador e a força motriz na lenda de Jasão e o Velocino de Ouro. Trata-se do Velocino sagrado do próprio Zeus que o herói deve res­gatar e é esse Velocino que serve de símbolo da visão criativa que nos impulsiona a afastar-nos do mundo seguro e convencional para um objetivo imaginado, por caminhos desconhecidos.

Zeus é um deus antigo e poderoso, e uma de suas mais antigas representações era a divindade com cabeça de carneiro, o invisível poder criativo que gerou o Universo manifestado. Em nosso interior, Zeus incorpora o invisível poder criativo da imaginação, que não pode ser compreendido, mas é responsável por todos os esforços e produ­tos concretos de nossas vidas. Não é somente o artista que usa a imaginação criativa, apesar de que no artista podemos enxergar o seu poder - e a sua impressionante autonomia - bem claramente.

Na carta do Imperador dos Arcanos Maiores, deparamo-nos com o lado patriarcal de Zeus, o Pai de Todos. No Ás de Paus, encontra­mos o seu espírito volátil e esse Zeus, tal como Afrodite, é uma força da Natureza. Todos temos essa força dentro de nós. Zeus é a capa­cidade de visualizar um potencial futuro diferente e maior do que a realidade concreta na qual nos encontramos - quer seja um plano para redecorar uma sala de estar ou o conceito para um novo negó­cio. Muitas pessoas não confiam nessa faculdade imaginativa, acre­ditando ser "boba" ou "infantil", ou não assumem o risco da ideia nova com medo de que fracasse. Mas o grande Zeus não é "bobo", nem tampouco "infantil", e o Ás de Paus que retrata o surgimento inicial da energia criativa primitiva é uma carta poderosa. A nova ideia ainda não foi formulada, mas há um profundo sentido de nervosismo e um sentimento de abertura na vida. É esse sentido que impulsiona Jasão para a sua missão do Velocino de Ouro. F.le poderia ter sim­plesmente deposto o seu tio Pélias e ficado em casa, em Iolkos. Portanto, o Ás de Paus implica o início da grande jornada no mundo da visão e da imaginação, no qual as limitações concretas são desa­fiadas e superadas e a vida, depois, nunca mais será igual.

No sentido divinalório, o As de Paus anuncia o surgimento da energia criativa, apesar de cia ainda não ter sido formulada como uma meta ou um projeto. O nervosismo e a insatisfação com as presentes circunstâncias são acompanhados de um forte sentimento de que coisas novas são possíveis. O indivíduo está prestes a embar­car em uma aventura em busca de um sonho.


O Dois de Paus

A carta Dois de Paus retrata o jovem Jasão em pé e pensativo diante da caverna do Centauro Quíron, antes de se dirigir ao encontro com seu tio para reivindicar a sua herança. Quíron é apenas visível na escuridão da caverna. Jasão veste uma túnica escarlate e segura duas tochas acesas nas mãos.

O Dois de Paus, como os Dois de todos os Arcanos Menores, polariza a energia primitiva do As e, aqui, essa polarização implica o aventureiro e a sua meta recem-estabeleeida. O nervosismo e o po­der ainda indefinidos do Ás começaram a aglutinar-se para formar uma visão particular, apesar de ainda não ser claro como essa visão ou meta poderá ser alcançada. Jasão nada sabia a respeito do Velocino de Ouro, mas agora ele já sabe, porque Quíron contou-lhe a sua história c do seu direito ao trono de Iolkos. Aqui, o sentimento de potencial cristalizou-se em algo definido, mesmo que a verdadeira aventura criativa do futuro de Jasão - a busca do Velocino de Ouro - somente tenha surgido depois que ele empreendeu o primeiro está­gio de sua jornada.

É assim que começam todos os empreendimentos: um pouco de cada vez. Uma ideia leva a outra e, muitas vezes, a primeira não é a derradeira, mas simplesmente um prelúdio. Entretanto, o prelúdio é suficiente para nos impulsionar para fora do santuário da caverna, cm razão do sentido de que poderíamos ter mais do que temos na realidade, ou sermos mais do que somos. A jornada de Jasão para Iolkos, o lugar de sua herança por direito, é entremeada de perigos, pois ele tem um inimigo que prazerosamente lhe tiraria a vida. Ele não pode prever o resultado nem tampouco se conseguirá ou fracas­sará em seu intento. Mas ele acredita em sua visão o suficiente para tentar e segura firmemente as tochas que simbolizam o fogo da ima­ginação. Do contrário, ele - ou nós - permaneceria tranquilo, mas para sempre reprimido cm sua caverna; seguro, mas nunca realizan­do os potenciais que são seus por direito; por outro lado, esses poten­ciais precisam de visão para que possam ser concretizados.

No sentido divinatório, o Dois de Paus anuncia a formulação de uma nova meta, ideia, objetivo ou projeto criativo. Essa nova ideia pode não ser a forma final do futuro, mas tem muito potencial e é suficientemente atrativa para incentivar o indivíduo a sair dos seus presentes limites, impulsionando-o para uma nova iniciativa. Aqui tudo depende da coragem de o indivíduo assumir a nova ideia e ter fé na­quela força criativa invisível que gerou a visão desse novo caminho.


O Três de Paus

A carta Três de Copas retrata Jasão recém-chegado à cidade de Iolkos. Ele veste uma única sandália, havendo perdido a outra ao cruzar o rio, confirmando dessa maneira o oráculo que profetizara o seu advento. De modo triunfal, na mão direita ele segura três tochas em chamas. Aos seus pés, está ajoelhado o usurpador, o rei Pélias, de barba e cabelos pretos e vestido em púrpura real, que lhe oferece com aparente humildade a coroa dourada, assumida ilegalmente.

O Três de Paus, como todos os Três dos Arcanos Menores, re­presenta o estágio inicial da inteireza. Aqui, trata-se da aparente in­tegralidade da ideia criativa original. Há motivo para comemorar e parece que tudo acontece conforme planejado. Jasão chegou ao local de sua herança c, vejam só, sem qualquer resistência aparente. Com medo do oráculo, Pélias parece querer abdicar voluntariamente ao trono que usurpou. E assim, muitas vezes o trabalho criativo parece ter um início fácil; os contatos certos aparecem como por mágica, os esquemas preliminares parecem favoráveis e a ideia parece adquirir substância, como se fosse por intervenção divina.

Entretanto, há um trabalho árduo pela frente e, frequentemente, novas ideias surgem nesse estágio - detalhes que não havíamos con­siderado, mas que envolverão atrasos, alterações de planos e muito mais esforço que o previsto. O Três de Paus implica um ponto alto, mas ainda há muito mais na sequência.

Agora Pélias conta a Jasão a respeito do Velocino de Ouro que se encontra em Cólquida, sugerindo, para os seus próprios planos malé­volos, que pouco significa ser rei de Iolkos sem a restauração do precioso Velocino de Ouro no santuário de Zeus. É nesse ponto, após a comemoração inicial, que muitos potenciais criativos caem por terra, pois o estágio dc inteireza inicial não c um resultado final e, sem a vontade do indivíduo em seguir um pouco além, a ideia não pode ser totalmente realizada. O mundo está cheio de planos incompletos c esquecidos em alguma gaveta, cujas 20 primeiras páginas tiveram um bom início. A mensagem aqui é: aproveitem a satisfação enquanto puderem, pois a ideia ainda não foi completada. A verda­deira confiança criativa somente pode ser encontrada caso a ideia seja testada, envolvendo o indivíduo ao máximo.

No sentido divinatório, o Três de Paus implica o estágio de inteire­za inicial de uma ideia ou de um projeto criativo. Bases seguras fo­ram estabelecidas, o entusiasmo é grande e há um sentimento de satisfação e otimismo a respeito do potencial futuro do projeto. Mas também há muito trabalho à frente e novos planos que devem ser engendrados antes de a ideia ser totalmente realizada.

O Quatro de Paus

A carta Quatro de Paus retrata Jasão e seus companheiros de viagem comemorando o fim da construção do grande navio Argo que os levará para a Cólquida em busca do Velocino de Ouro. O navio, com suas velas vermelhas e ostentando o emblema de um clarão de Sol dourado, aguarda a subida da maré. Ao redor da figura de Jasão, que veste uma túnica vermelha, estão cinco de seus heróicos companheiros: Héracles (com o qual nos deparamos na carta da Força dos Arcanos Maiores), portando a sua pele de leão e segurando uma tocha flamejante; Teseu, rei de Atenas (que encontraremos mais adiante na carta do Rei de Paus dos Arcanos Menores), com uma coroa dourada, vestido de vermelho-carmesim e segurando uma tocha flamejante; Castor e Pólux, os Gémeos Guerreiros (que encontraremos mais adiante na carta do Cavaleiro de Espadas), ambos portando uma armadura prateada e uma tocha flamejante; e Orfeu, o Cantor (com o qual nos deparamos na carta do Rei de Copas), trajando uma túnica azul e segurando a sua lira.

O Quatro de Paus é a carta da colheita e da recompensa. O desafio de uma nova ideia criativa foi enfrentado, muito trabalho foi feito e agora o indivíduo pode colher a sólida recompensa consegui­da por meio do esforço. Da mesma forma que o Três de Paus, essa carta implica algo que merece ser comemorado; mas, diferentemen­te do Três de Paus, ela possui uma base mais sólida e os benefícios já são evidentes.

O desafio de conquistar o Velocino de Ouro é assom­broso; como pode um homem sozinho navegar aos confins do mundo e com que meios? Jasão correspondeu a esse desafio cercando-se dos amigos para ajudá-lo a alcançar os seus objetivos. Todos esses heróis da Mitologia têm habilidades diferentes, de acordo com suas naturezas. Héracles tem a força; Teseu, um fogoso aventureiro como Jasão, a visão criativa; os Gémeos, a mente afiada; e Orfeu, o sentimento profundo e a empatia para desarmar qualquer inimi­go. Se considerarmos todos esses amigos como pessoas reais cujo apoio podemos angariar ou como recursos interiores dos quais pode­mos usufruir nesse estágio do processo de trabalho criativo, a ajuda está disponível e poderá permitir o alcance dos nossos objetivos. Com essa tripulação heróica c esse navio esplêndido, a satisfação de Jasão está garantida.

No sentido divinatório, o Quatro de Paus prevê um período de recompensa pelos esforços empreendidos. Uma nova ideia produziu frutos prematuros e o indivíduo tem todo o direito de comemorar os resultados concretos de seus esforços. Mas esse é tãosomente um estágio da jornada e logo o navio deverá zarpar para enfrentar os maiores desafios antes de atingir a meta final.

O Cinco de Paus

A carta Cinco de Paus retrata a luta de Jasão com o dragão que vigia o Velocino de Ouro. Enorme e coberto de escamas, o dragão sopra fogo de sua boca enquanto, com suas garras, ele segura o Velocino. Jasão o enfrenta com duas tochas flamejantes.Ao seu lado, está a feiticeira Medeia, filha do rei Aetes da Cólquida, que por ele se apaixonou e o ajuda nessa empreitada. Ela é linda com seu cabelo preto, trajando um vestido vermelho e segurando três tochas flamejantes.

O Cinco de Paus representa a luta. Aqui, a visão criativa colidiu com a realidade do mundo na forma do dragão que, na Mitologia, c a força primitiva da terra que resiste à mudança. 0 problema cm apli­car limites na vida prática - assim como as nossas próprias limita­ções da inércia regressiva - é o maior desafio para qualquer indiví­duo que deseja expressar o poder de sua imaginação criativa na vida real.

Essa luta com o dragão pode assumir a forma de problemas financeiros ou o problema de habilidades insuficientes (quando o in­divíduo precisa estudar ou treinar mais para dominar uma profissão), ou a dificuldade de um corpo fraco (pelo cansaço ou por doença, causado pelo excesso de esforço enquanto esteve impacientemente preso à visão), ou o dilema de ajustar a visão ao mercado prevale­cente (que inevitavelmente é conservador demais, cauteloso ou des­valorizado); essa carta simboliza dificuldades em nível concreto. Muitas vezes essas dificuldades concretas coincidem e são causadas pelo medo do insucesso e por uma profunda apatia que, em si mesmos, também fazem parte da imagem do dragão. Mas o dragão deve ser enfrentado, do contrário Jasão não poderá levar o Velocino, e os obstáculos que surgem durante o trabalho criativo - interno ou exter­no - não podem ser evitados. Inevitavelmente, a imaginação colidirá com a resistência da realidade e, de alguma forma, as duas deverão acomodar-se.

No sentido divinatório, o Cinco de Paus prevê um período de luta durante o qual o indivíduo deve enfrentar o dragão da realidade ma­terial para alcançar a sua meta. Assuntos cotidianos podem começar a dar errado e é preciso prestar mais atenção às exigências e aos limites da realidade concreta; o indivíduo também pode ficar preso a um humor depressivo ou apático. Comprometimentos devem ser as­sumidos, mantendo ao mesmo tempo a integridade da visão original.

O Seis de Paus

A carta Seis de Paus retrata Jasão vitorioso após a sua luta com o dragão. O herói levanta o Velocino de Ouro em triunfo. Atrás dele, seis dos seus amigos-heróis estão festejando, cada um segurando uma tocha acesa.

O Seis de Paus representa uma experiência de triunfo, de reco­nhecimento e de aclamação pública. A luta com o dragão já aconte­ceu e Jasão fez jus à sua recompensa; o Velocino está em suas mãos e seus amigos levantam suas tochas para honrá-lo em reconheci­mento. Essa carta representa um momento inebriante para o indiví­duo que se esforçou para expressar uma nova ideia ou uma visão criativa para as outras pessoas, pois é o momento cm que somos reco­nhecidos pela coletividade por nossos esforços. O empreendimento criativo foi aprovado não somente pelos nossos entes queridos, mas pelo mundo exterior, que na carta do Cinco de Paus apareceu, inicial­mente, como o terrível dragâo-terra que parecia frustrar todos os es­forços.

O estágio, um tanto inebriante, refletido pelo Seis de Paus pode assumir muitas formas, de acordo com o nível do objctivo e das aspi­rações do indivíduo. O atleta que treinou e se preparou durante can­sativos meses c até anos sabe disso quando vence uma competição, assim como o indivíduo que almeja uma promoção também o reco­nhece quando, finalmente, uma nova posição lhe é oferecida. O es­critor aprecia-o quando o seu livro é publicado e aclamado, c assim também o estudante, quando finalmente recebe o seu diploma. Inde­pendentemente da dimensão, a meta aqui é alcançada e reconhecida pelos outros. Portanto, o Seis de Paus é uma das cartas dos Arcanos Menores que mais proporciona satisfação individual, pois significa a validação pública de uma visão criativa que se iniciou em meio à ansiedade e à incerteza.

Mas até o Seis de Paus deve ceder o seu lugar para a carta seguinte, pois Jasão ainda não levou o Velocino de volta para Iolkos. O reconhecimento público provoca os seus próprios dilemas, apesar de representar um pico na vida criativa, pois a imaginação é fértil, e novos desafios - de forma particular a inveja e o sentido de compe­tição - podem surgir no momento do triunfo.

No sentido divinatório, o Seis de Paus prevê a aceitação pública e o reconhecimento de alguma espécie. Isso pode assumir a forma de uma promoção, uma qualificação ou o reconhecimento de algum tra­balho criativo.

O Sete de Paus

A carta Sete de Paus retrata a luta de Jasão com o rei Aetes da Cólquida, que ele deve derrotar para poder levar de volta o Velocino de Ouro. Jasão, segurando duas tochas flamejantes, luta com o rei que veste uma túnica vermelho-fogo e segura outra tocha flamejante. Dois dos amigos-heróis de Jasão - Héracles e Teseu - estão em combate com dois guerreiros do rei que, vestindo armaduras, surgiram dos dentes do dragão. Os dois heróis e os dois guerreiros do rei seguram tochas flamejantes.
Tal como o Cinco de Paus, o Sete de Paus retrata uma lula, mas aqui se trata de um combate entre homens, diferentemente do combate do herói contra o estranho dragão-terra. A visão criativa do Velocino de Ouro conquistado em triunfo das garras do dragão aqui leva para o que poderíamos chamar de pura competição, pois Aetes também quer o Velocino e está preparado para lutar por ele.

Portanto, o reconhecimento inerente ao Seis de Paus provoca a inevitável resposta: mais alguém quer o que trabalhamos tão arduamente para conseguir, e somos mergulhados em uma competição que nos desafia a empenhar mais esforços.

A mensagem é que não podemos permanecer estagnados com os nossos louros ou alguém virá para roubá-los. O problema da inveja e da competição é um fato da vida criativa que o indivíduo que trabalha nessa esfera deverá aceitar. A imaginação não somente concentra a visão em uma pessoa, mas também estimula a visão de outras. A competição é a companheira inevitável do sucesso criativo e, frequentemente, é o próprio medo de não consegui-lo que faz com que as pessoas desistam de tentar.

Na realidade, o desafio do Sete de Paus é uma prova de fé do próprio indivíduo. Quanto estamos dispostos a lutar pelo que já con­seguimos conquistar? Essa ameaça do "exterior" é um estímulo para a individualidade como também para a própria imaginação que deve­rá então criar novas e melhores formas. Em muitos aspectos, o rei Aetes tinha tanto direito ao Velocino de Ouro quanto Jasão, pois ele o possuiu antes. E essa é a falta de moral do mercado no qual não adianta ficar chorando: "Mas fui eu quem primeiro teve essa ideia!" Simplesmente devemos lutar para que a ideia funcione e para torná-la ainda melhor, pois ninguém consolará o perdedor que, certa vez, teve uma boa ideia.

No sentido divinatório, o Sete de Paus prevê uma luta pelas ideias criativas de outras pessoas - pura competição. O indivíduo é desa­fiado a melhorar e a desenvolver o seu projeto diante de um mundo invejoso e competitivo, e precisa aprender a valorizar a sua ambição e o seu instinto competitivo.

O Oito de Paus

A carta Oito de Paus retrata a viagem de volta de Jasão após a sua fuga bem-sucedida do irado rei Aetes. Podemos ver o Argo com todas as velas içadas e oito tochas acesas em sua ponte. Acompa­nhando o navio, golfinhos brincam nas ondas.

O Oito de Paus representa uma liberação de energia criativa de­pois que as ansiedades e os esforços do Sete de Paus foram supera­dos. O conflito estimula a imaginação e, se tivermos a capacidade de enfrentá-lo e atravessá-lo, sempre haverá um período de trégua quan­do os nossos planos prosseguem cm direção da meta a passos lar­gos, com um sentimento de leveza e de confiança. Essa liberação de energia somente surge das tensões que estão amainando, como se a confiança resultasse unicamente da superação de obstáculos.

A experiência da liberação de uma nova energia criativa pode ser vista em muitos esportes competitivos nos quais, após um conjunto de dificuldades, há um brusco impulso e o indivíduo ou a equipe se lança para a meta. Também é uma experiência comum para o pintor, o escritor, o ator e o músico - e qualquer artista criativo que atraves­sou o bloqueio e está "a caminho de casa". A euforia desse estado não surge simplesmente do nada; ela é o preço que pagamos ao en­frentar o desafio da competição e da dúvida, das quais nos levanta­mos com energia renovada. Isso nos diz algo a respeito de por que precisamos dos conflitos em nossas vidas para poder criar e porque tantos artistas parecem cortejar os conflitos e a competição com ou­tros. Há um misterioso relacionamento entre os trabalhos da imagi­nação criativa e a presença de um conflito saudável em nossas vidas.

A Mitologia também conta a respeito desse relacionamento, pois o deus Zeus, que preside a história de Jasão, existe em um estado de constante tensão e luta com a sua esposa Hera. Ela, incorporando as leis do matrimónio e da vida doméstica, eternamente o restringe e, ao mesmo tempo, desafia-o a criar. Da mesma forma, nós também pre­cisamos de restrição c de desafios para poder gozar o fluxo excitante da energia que o Oito de Paus retrata por meio da imagem de Jasão e de sua tripulação em seu caminho de volta para casa.

No sentido divinatório, o Oito de Paus anuncia um período de ação depois de um atraso ou de uma luta. Uma viagem pode ser implicada ou um longo trecho de frutífera atividade criativa durante o qual a imaginação flui desimpedida depois que as ansiedades e as tensões foram superadas ou resolvidas.

O Nove de Paus

O Nove de Paus retrata a prova final de Jasão e de seus Argonau­tas antes de o objetivo ser alcançado: a passagem pelos rochedos Cila e Caríbdes. Ao longe, a cidade de Iolkos pode ser vista com nove tochas flamejantes na praia. O navio, Argo, com as velas desmanteladas, encontra-se na passagem entre os rochedos, ainda em perigo. Em volta do navio desencadeia-se uma tempestade e o mar é turbulento.

O Nove de Paus é a carta da reserva de força. Ele retrata o tremendo poder da imaginação criativa, pois justamente quando sen­timos que não podemos mais lutar ou nos confrontamos com outra dificuldade, de alguma maneira, no meio desse estresse, as ideias e a energia se tomam disponíveis para enfrentar esse desafio final antes do objetivo.

As velas desmanteladas do Argo refletem o estado de exaustão de Jasão e de seus amigos, pois passaram por muitas pro­vas e dificuldades, e estão quase chegando em casa com o Velocino de Ouro. É exatamente nesse momento que, muitas vezes, o inevitá­vel desafio final surge diante das nossas ideias criativas e projetos. E sentimos, nesse momento, que simplesmente não podemos seguir em frente; a energia foi totalmente gasta e a força desgastada, tudo feito por nada.

Mas existe em nós algo misterioso e impressionante que é des­pertado para fazer frente a esse desafio e, então, presenciamos o aspecto mais perturbador e milagroso: o espírito criativo dos seres hu­manos. Apesar de não poder controlá-lo ou curvá-lo à nossa vontade -não mais do que os gregos antigos pudessem exigir da obediência de Zeus às leis humanas -, ele está disponível para ajudar-nos quando estivennos em nossos derradeiros limites. É aí que a nossa imaginação proporciona uma brusca injcção de vida, esperança e ideias novas. Se tivermos a vontade de tentar uma vez mais, a energia estará dis­ponível e o objetivo final poderá ser alcançado.

No sentido divinatório, o Nove de Paus anuncia um período em que, no ponto de exaustão, um desafio final surge para impedir que alcancemos a nossa meta; c quando, de alguma forma, encontramos misteriosamente a reserva de força para fazer frente ao desafio. Essa força somente é disponível quando todas as possibilidades fo­ram exauridas e parece ser invocada tanto pela nossa necessidade quanto pela nossa disponibilidade, apesar da exaustão, em tentar uma vez mais.

O Dez de Paus

A carta Dez de Paus retrata Jasão sentado diante dos destroços do navio Argo, totalmente exausto. Ele voltou vitorioso para Iolkos e está com um traje real vermelho e uma coroa dourada; aos seus pés, o Velocino de Ouro. Ele está curvado pelo peso das dez tochas flamejantes, distribuídas em suas costas e seus ombros.
O Dez de Paus retrata um estado de opressão. Jasão cumpriu o que havia planejado fazer, mas, ao final da história, ele é uma figura triste, sobrecarregada e esmagada pelas preocupações, enquanto o navio Argo, uma vez glorioso, o transportador de heróis, está em ruínas e apodrecendo.

A princípio é difícil entender por que essa lenda de visão e de feitos heróicos devesse culminar em uma ima­gem tão pesada e triste. Mas essa última carta do naipe de Paus revela algo importante a respeito da imaginação criativa: ela pode não funcionar mais quando fica presa sob o peso das responsabilida­des materiais.
Essa dura lição ocorre a muitas pessoas que se propõem a iniciar um negócio ou objetivam um sucesso criativo. Com o passar do tem­po e com o crescimento e a solidez do empreendimento, o espírito de aventura e o entusiasmo do começo parecem sumir. No processo de atingir a sua meta e recuperar o seu trono, Jasão deixou de valorizar os elementos imprevisíveis, como aqueles que Medeia personifica, e dessa maneira ele "se vendeu", esquecendo-se da ousadia e da de­senvoltura que primeiro o empurraram para a aventura. O poder volátil da imaginação não se deixa prender às formas pesadas c estru­turadas. Frequentemente, o tédio e a depressão acompanham a inte­gralidade de um trabalho criativo, pois, enquanto a tensão do esforço empenhado cm ideias criativas gera mais ideias, suas concretizações finais significam que a imaginação não pode mais se expressar livre­mente.

Portanto, a imaginação precisa de campos novos e o indivíduo que, como Jasão, se agarra às formas que construiu pode deparar-se com uma certa opressão e exaustão sem razões aparentes. Esse é o momento de abrir mão de alguma defesa e segurança para que a imaginação possa ser despertada com uma nova ideia, uma nova meta e uma nova aventura.

No sentido divinatório, o Dez de Paus sugere que o indivíduo está sobrecarregado e oprimido por ter assumido responsabilidades em demasia e além de sua capacidade de suportar. A imaginação foi sufocada pelas excessivas preocupações materiais e parte daquela jovem ousadia c disposição simplesmente se perdeu. E preciso re­nunciar a certas coisas para que o processo criativo possa ser reno­vado e um novo ciclo recomece.

As Cartas da Corte

O Pajem de Paus


A carta do Pajem de Paus retrata um garoto de cerca de 12 anos, de cabelos castanhos e vestindo uma túnica laranja. Ele monta um carneiro de pele dourada que voa sobre rios e campos verdes e amarelos, segurando uma tocha flamejante. A sua frente, o Sol aparece espalhando a sua luz alaranjada sobre o cenário.

Na carta do Pajem de Paus, deparamo-nos com o elemento Fogo em seu mais delicado e frágil início - os primeiros movimentos da inspiração criativa que, geralmente, se manifesta com certa excitabilidade e desconforto com as condições existentes. O Pajem é encenado por Frixo, com o qual já nos deparamos na história de Jasão e o Velocino de Ouro. Ele realmente inicia essa história, ape­sar de não ser um dos heróis que dela participam nem tampouco o deus que a preside, mas é quem leva o Velocino de Ouro para o distante reino da Cólquida e longe do perigo.

Frixo era filho do rei Atamas que, por ordem de Zeus, se casara com a mulher fantasma chamada Néfíle, que lhe deu dois filhos: o menino Frixo e a menina Hele. Finalmente, a mulher fantasma desa­pareceu c Atamas casou-se com uma mortal, Ino, que tinha ciúmes tanto de sua antecessora quanto das crianças. Ino convenceu as mulheres locais a ressecar secretamente as sementes de trigo para prejudicar a safra do grão c espalhou o comentário de que o oráculo de Delfos exigia o sacrifício de Frixo a Zeus para neutralizar a "mal­dição". Sua intenção era eliminar Frixo para que um filho seu pudes­se ser o herdeiro do trono.

Mas Zeus zangou-se com o fato de seu nome ler sido envolvido nessa tentativa de vingança e enviou o seu carneiro alado para sal­var Frixo, que montou o animal e puxou a irmã atrás dele. O carneiro dirigiu-se para o leste, em direção à Cólquida. Infelizmente, Hele perdeu o seu ponto de apoio e caiu no mar. Mas Frixo conseguiu chegar à Cólquida, onde sacrificou o carneiro a Zeus. Assim, Frixo é considerado o mensageiro e o cenógrafo que prepara a ação antes de os conhecidos heróis entrarem no palco da história.

Frixo, o Pajem de Paus, é a imagem daquele frágil início da ima­ginação criativa que muitas vezes encontra dificuldades entre as pes­soas mais realistas e nas exigências c responsabilidades do mundo material. O perigo no qual o garoto se encontra é característico do Pajem de Paus, pois essa figura, apesar de prometer um potencial futuro que ainda não emergiu, frequentemente se manifesta de início como uma irritabilidade e um nervosismo que provocam as pessoas e causam problemas na vida e no trabalho pessoal.

Mas Frixo é inocente e, portanto, Zeus o favorece concedendo-lhe um precioso presente. O Pajem de Paus marca o início do surgimento de uma nova ideia criativa, mas, como todos os Pajens dos Arcanos Menores, preci­sa de cuidados, proteção e orientação para que essa pequena chama não seja apagada pelo ciúme e pela inveja de outras pessoas ou pelo sentido de negatividade e de dúvida do próprio indivíduo. Zeus, rei dos deuses e incorporação do fogoso espírito criativo, é o único que en­xerga o verdadeiro valor de Frixo e é preciso que tenhamos algum contato com esse princípio arquetípico dentro de nós mesmos antes de poder valorizar esse delicado início da expressão imaginativa.

Frixo abre a história, mas não participa dela c desaparece diante do esplendor e do poder do herói Jasão. Isso também reflete algo a respeito do Pajem de Paus. Muitas vezes as primeiras ideias reílcti-das por essa carta são infantis e não representam suas formas finais, que acabam resultando em um importante esforço criativo.

Frequen­temente, o conceito inicial desaparece para ser substituído por algo melhor e mais sólido. Mas esse início permite que o processo seja ativado e, sem esses movimentos frágeis, nada seria desenvolvido na esfera das novas ideias criativas. Afinal, não é a personalidade de Frixo que nos chega pela Mitologia - ele é imaturo e jovem demais para realmente possuir uma personalidade -, mas é o seu papel de mensageiro e guardião inicial do Velocino de Ouro, que pertence a Zeus, o emblema do grande poder criativo do deus. Portanto, o Pa­jem de Paus pode não indicar um novo projeto ou ideia com sucesso garantido e a sua agitação pode ser facilmente descartada como "ingénua" ou "fantástica". Ele pode apontar para o poder da imagi­nação, avisando-nos que há muito mais no local do qual surgiu a primeira ideia.

No sentido divinatório, quando o Pajem de Paus aparece em uma abertura de cartas, ele anuncia que chegou o momento de o indivíduo descobrir esses impulsos de potencial criativo dentro dele mesmo. Muitas vezes podem se manifestar por um certo nervosismo no trabalho, um sentimento vago de insatisfação não suficientemente forte para motivar uma mudança c uma indicação de que temos a capacidade de expandir, de alguma forma, a própria vida.

As fantasias iniciais que acompanham essa agitação não têm o poder impulsionador do Ás de Paus e, no final, podem vir a ser impraticáveis ou impossíveis. Mas é importante que sejam consideradas seriamente, pois elas são os arautos de uma fonte mais forte de inspiração e precisam ser alimentadas c não rejeitadas, como se essa excitação fosse mera­mente "uma má fase" em vez do prenúncio de algo mais criativo.

O Cavaleiro de Paus

A carta do Cavaleiro de Paus retrata um exuberante jovem montado em um cavalo alado trajando uma túnica vermelha e uma armadura e um elmo dourados. Uma aljava de flechas em seu ombro e uma tocha flamejante em sua mão. O cavalo branco está voando enquanto embaixo, na terra, encontra-se um monstro que o jovem matou com uma flecha. O monstro tem cabeça de leão, corpo de carneiro e cauda de serpente.

Na carta do Cavaleiro de Paus, deparamo-nos com a volátil, mutá­vel e efervescente dimensão do elemento Fogo, que está em constante movimento e eternamente buscando novos desafios. Ele é encenado pela figura mitológica do herói Beierofonte, que domou o cavalo alado Pégaso, matou a monstruosa Quimera e, em seguida, foi arruinado por sua própria arrogância, que o levou a tentar voar para o Monte Olimpo, a morada dos deuses.

Beierofonte teve de fugir de Corinto, sua terra natal, por haver matado acidentalmente o seu próprio irmão Belero, e procurou santuá­rio na corte do rei Preto de Tirinto. Mas a esposa desse rei apaixonou-se pelo impetuoso e um tanto ambíguo rapaz e, ao ser rejeitada pelo jovem, o acusou diante do rei Preto de tentar seduzi-la. Acreditando na história da esposa, o rei decidiu destruí-lo.

Beierofonte foi então enviado em uma aparente missão fatal - a destruição da Quimera, um monstro que soprava fogo. Mas o jovem teve a sorte de ser ajudado por um adivinho que o instruiu cm como capturar e domar Pégaso. Beierofonte encontrou o cavalo e jogou sobre a sua cabeça uma rédea dourada que Atena lhe havia dado. Ele então venceu a Quimera voando sobre ela no dorso de Pégaso, enchendo-a de fle­chas e arremessando a sua lança, em cuja ponta havia colocado uma bola de chumbo, na boca do monstro; o fogo que a Quimera soprava derreteu o chumbo que, líquido, escorreu em sua garganta, matando-a.

Em vez de demonstrar a apropriada modéstia com respeito ao seu feito, Beierofonte tornou-se arrogante e prepotente. No auge de sua sorte, com presunção, tentou alcançar o Olimpo como se fosse imortal. Furioso, Zeus enviou uma vespa que picou Pégaso por baixo da cauda, fazendo-o empinar, desmontando Beierofonte, que des-pencou vergonhosamente para a terra.

Beierofonte, o Cavaleiro de Paus, é a imagem do desejo por novas e mais gloriosas aventuras. Essa figura ambivalente, muito criativa e desprendida da realidade, pois, apesar de ser a primeira a pressentir coisas novas, assim como a primeira a enfrentar um de­safio, por mais difícil que seja, também é a nossa tendência à presun­ção e a uma espécie de pretensão de que a boa sorte deva ser pro­porcionada pela vida, independentemente de quem sejamos ou do que façamos.
O Cavaleiro de Paus é um sedutor - as mulheres tendem a amá-lo, tal como a esposa do mitológico rei Preto -, mas ele não é confiável, pois nenhuma mulher consegue segurá-lo quando uma nova aventu­ra se apresenta. Ele é intuitivo c imaginativo, e, em termos moder­nos, poderíamos até chamá-lo de tendencioso, pois é o primeiro a assumir uma nova ideia, uma nova moda, um novo estilo de vida, bem antes de o restante da humanidade se conscientizar do valor dessa novidade.

O Cavaleiro de Paus não é um seguidor, como também não é um líder, pois é autocentrado demais e facilmente entediado para assu­mir a responsabilidade de dirigir outras pessoas. Como Dom Quixote do famoso épico de Cervantes, ele ataca moinhos de vento e assume causas ou desafios que podem não ser realmente relevantes, mas a respeito dos quais está preparado a fazer um enorme alarde só por­que parecem excitantes e o colocarão em destaque, como também o manterão ocupado durante um certo tempo.

O Cavaleiro de Paus é uma figura agradável e até adorável, e tendemos a perdoá-lo constantemente graças à sua natural positivi­dade, seu fascínio, sua ingenuidade e suas boas intenções. Mas, como dizem, o caminho para o inferno está cheio de boas intenções, e nem todas as intenções dessa figura são realmente concretizadas. Ele está constantemente engendrando novas ideias que podem ser filtradas, consideradas e processadas por meio de uma visão mais realista, seja pelo próprio indivíduo ou por outra pessoa mais em contato com a realidade do que esse fogoso e volátil Cavaleiro. Então, a sua força pode ser apreciada enquanto a sua fraqueza é tornada menos preju­dicial pela fria consideração dos fatos.

No sentido divinatório, quando o Cavaleiro de Paus aparece em uma abertura de cartas, ele anuncia que chegou o tempo para o indivíduo desenvolver as voláteis, exuberantes e aventurosas quali­dades incorporadas na figura de Belerofonte.

Muitas vezes, em nível divinatório, o Cavaleiro de Paus manifesta-se como uma mudança de residência, porque o indivíduo repentinamente se sente oprimido pelo ambiente no qual se encontra e sai à procura de campos mais amplos e verdes.

Algumas vezes o Cavaleiro de Paus penetra na vida das pessoas como um jovem encantador, interessante e um tan­to irresponsável, cheio de ideias novas e inspiradoras, mas que deve ser tratado com cuidado para que ele não nos leve a possíveis prejuí­zos. Se um desses indivíduos entrar em nossa esfera de relaciona­mentos, isso deve ser visto como um aviso de que essas qualidades estão tentando emergir de dentro de nós mesmos.


A Rainha de Paus

A carta da Rainha de Paus retrata uma linda e radiante mulher de cabelos castanhos, com um vestido amarelo e portando uma coroa dourada. Está sentada em um trono dourado cujos braços são entalhados com cabeças de leão e, aos seus pés, amarrada em uma corrente dourada, encontra-se uma leoa adormecida. Em sua mão, uma tocha flamejante e, ao seu redor, um cenário de ricos campos verdes e dourados sob um céu azul-vivo.

Na carta da Rainha de Paus, deparamo-nos com a dimensão es­tável, vivificante e fiel do elemento Fogo, que aquece, anima e inspi­ra. Ela incorpora a figura mitológica da rainha Penélope, esposa do famoso Ulisses de ítaca.

Ao nascer, Penélope foi jogada ao mar por ordem de seu pai, ícaro, que esperava por um filho. Mas um grupo de patos listrados de vermelho a levaram para a superfície, alimenta-ram-na e levaram-na à praia. Impressionado com esse feito, ícaro
atenuou a sua decepção percebendo que a sua jovem filha devia possuir um destino especial.

Quando o seu marido Ulisses embarcou para a Guerra de Tróia juntamente com os outros príncipes gregos, Penélope passou a go­vernar a ilha com o seu único filho Telêmaco para ajudá-la. Depois de um bom tempo, presumindo que Ulisses havia morrido, 112 jovens príncipes insolentes das ilhas ao redor de ítaca começaram a corte­jar Penélope, cada um esperando casar-se com ela para assumir o trono. Eles até decidiram, entre si, assassinar Telêmaco.

Quando pela primeira vez eles pediram que Penélope escolhesse um deles como marido, ela manteve a sua fé com a sua intuição e coração quanto à segurança de Ulisses e declarou que ele certamente devia estar vivo.

Mais tarde, sendo pressionada, ela prometeu uma decisão assim que terminasse a mortalha que estava preparando para o velho Laerte, o seu sogro. Mas ela levou três anos nessa tarefa, tecendo de dia e desfazendo o seu trabalho à noite, até que um dos pretendentes percebeu o estratagema.

Durante todo esse tempo, os príncipes inso­lentes ficaram desfrutando e divertindo-se no palácio de Ulisses, con­sumindo o seu alimento, bebendo o seu vinho e seduzindo as suas serviçais.

Nesse meio tempo, Ulisses chegou a ítaca depois de dez anos de andanças c viagens, disfarçado de mendigo porque havia sido infor­mado das atividades em seu palácio. Quando o tal "mendigo" ali apareceu, de início Penélope não o reconheceu, mas finalmente ele se revelou, destruiu os pretendentes insolentes e reuniu-se feliz à sua mulher.

Entretanto, alguns negam que Penélope permaneceu fiel a Ulisses durante a sua longa ausência, pois era uma mulher de espíri­to e imaginativa. Eles a acusam de gerar o deus Pan com Hermes, o Mensageiro, o que pode ou não ser verdade.

Penélope, a Rainha de Paus, é a imagem da fidelidade do coração e a força da imaginação criativa para apoiar os objetivos escolhidos do coração. Em um certo sentido, ela é a representação da esposa fiel, mas essa sua fidelidade não é necessariamente literal e algumas ver­sões do mito questionam essa técnica lealdade sexual. A fidelidade de Penélope surge em um nível muito mais profundo.

Durante a longa ausência de seu marido, ela não tinha como saber se ele estava vivo ou morto e, às vezes, seria obviamente mais conveniente escolher outro marido e seguir em frente com a sua vida. Mas, intuitivamente, ela sabe que Ulisses voltará e é essa qualidade de fé e uma lealdade que não surgem da moralidade forçada, mas de uma convicção inte­rior de que, ao final, tudo dará certo, que tornam Penélope uma figu­ra tão apropriada para ilustrar a Rainha de Paus.

Mas ela também é contida e estável, pois o seu fogo está controlado e torna-se o calor do aconchego, um centro ao qual muitos são atraídos - tal como os 112 pretendentes atraídos não somente pelo trono, mas também pela mulher.

A Rainha de Paus não sai correndo atrás de arcos-íris ou tenta voar para o Monte Olimpo - ideias mais típicas do Cavaleiro. Ela armazena a sua grande força e energia interiormente e as dedica às poucas coisas que conquistaram o seu coração. De alguma forma, a Rainha de Paus é uma imagem antiga daquela figura de "supermulher" que tantas mulheres modernas gostariam de ser: a mulher que é capaz de amar e de ser fiel em um relacionamento, mas que também possui a força, a ingenuidade, a criatividade e a energia incansável para reger o seu próprio mundo pelo seu próprio direito, sem precisar de um ombro forte sobre o qual se apoiar nem tampouco do rótulo socialmente aceito de "esposa" para que se tor­ne autoconfiante.

No sentido divinatório, quando a Rainha de Paus aparece em uma abertura de cartas, ela anuncia o momento de o indivíduo começar a desenvolver essas qualidades de aconchego, de constância, de fide­lidade e do sustento criativo de uma visão que Penélope tão propria­mente simboliza. A Rainha de Paus pode entrar em nossa vida como essa mesma mulher, imaginativa, atraente, aconchegante e fiel. Não é mero acaso se essa pessoa aparecer em nossa esfera de relacio­namentos; ao contrário, trata-se de um prenúncio de que o indivíduo está para encontrar esses atributos dentro dele mesmo.

O Rei de Paus

A carta do Rei de Paus retrata um homem elegante com barba e cabelos castanhos encaracolados. Ele veste uma roupa vermelha e uma coroa dourada na cabeça, e está sentado em um trono cujos braços são entalhados em formato de cabeças de carneiros douradas. Em sua mão direita, uma tocha flamejante. Ele está cercado de campos verdes nos quais é possível ver um carneiro parado. Atrás dele, uma linda cidade com colunas e pórticos brancos, coroada por uma acrópole.

Na carta do Rei de Paus, deparamo-nos com a dimensão ativa, dinâmica c senhorial do elemento Fogo, que simboliza a imaginação criativa. Ele é encenado pela figura mitológica do rei Tcseu de Ate­nas, com o qual nos encontramos brevemente nas cartas numeradas do naipe de Paus como um dos companheiros de Jasão em sua bus­ca ao Velocino de Ouro. O rei Teseu personifica o espírito excitante, extrovertido, impulsivo, mal-humorado e tremendamente contagioso da energia do Fogo. Sua mãe Etra era amada tanto pelo deus Poscidon quanto pelo rei Egeu de Atenas.

Teseu foi gerado conjuntamente pelos dois, mas desconheceu as suas origens até a idade de 16 anos, quando então saiu em busca de seu lugar como herdeiro de Egeu que resultou em uma jornada cheia de aventuras perigosas. Ele se ofere­ceu como um dos jovens tributos que eram enviados a Creta para alimentar o terrível Minotauro, convenceu a filha do rei Minos, Ariadne, a ajudá-lo a destruir o monstro e voltou para Atenas em triunfo, pas­sando não somente pela violenta luta com o monstro, mas também por fogo, terremoto, tumultos e mares terríveis.

Ao se tornar rei de Atenas no lugar de Egeu, ele teve muitas ideias de como unir as cidades gregas que viviam em constantes conflitos e, por meio de uma combinação de charme, expressão, pro­eza física, uma queda para a dramaticidade e uma mente brilhante, ele conseguiu convencer esses senhores independentes c altivos a se juntarem sob um único governo, o qual ele presidiu como Alto Rei.

As aventuras amorosas de Teseu foram variadas e turbulentas como os seus feitos guerreiros. Constante na perseguição de mulheres, ele finalmente escolheu a amazona Hipólita como a sua rainha, uma mulher guerreira que não se contentava em viver na tranquilidade doméstica e insistia em lutar a seu lado em todas as batalhas. Depois da morte dela, Teseu tornou-se um pirata dos mares, voltando perio­dicamente para Atenas, mas sempre perseguindo um novo sonho, uma nova conquista.

Casou-se novamente com Fedra, uma princesa de Creta que, infelizmente, se apaixonou por Hipólito, o íilho de Teseu com Hipólita. Esse dilema resultou no suicídio de Fedra e na morte de Hipólito. Depois disso, Teseu pcrdeu-se totalmente e acabou se jogando ao mar do alto de um rochedo.

Teseu, o Rei de Paus, é a imagem do fogoso entusiasmo que faz do indivíduo, homem ou mulher, um verdadeiro líder. Esse espírito ardente não é simplesmente impulso, intranquilidade e novas ideias -próprios do Cavaleiro de Paus - mas também é nobreza e força. Teseu não é tão-somente um homem impetuoso, mas um estrategis­ta e um modelador de eventos mundiais, pela sua visão e a força constante em manifestar essa visão, assim como a calorosa e conta­giosa personalidade que consegue convencer os outros de sua vali­dade. Ele não tolera limitações, é impaciente e tem a certeza de estar correto e, inquestionavelmente, é um mau perdedor.

O rei Teseu também é o epítome do homem chauvinista, e esta qualidade não se limita unicamente aos homens, podendo ser encon­trada em muitas mulheres. É o espírito exaltado da procura masculina por aventura, conflito e conquista e, ao mesmo tempo, subestimando as dimensões mais "comuns" da vida emocional e material - que parecem inferiores, tediosas e, portanto, não merecem perda de tempo e esforço.

O rei Teseu é irresistível por ser mais amplo que a vida, e essa qualidade da natureza humana, que tende a se mistificar, assim como "vender" uma grande visão aos outros, também é irresistível e dinâmica. Os indivíduos que possuem neles mesmos o espírito forte do Rei de Paus não se satisfazem com o fato de ser "meros" mor­tais. Deve haver uma causa a ser assumida, um dragão a ser destruí­do, um desafio a ser enfrentado, uma imperfeição no mundo que deve ser corrigida, pois o indivíduo que não está familiarizado com o espírito do Rei de Paus, na melhor das hipóteses, é encantador e fascinante e, na pior das hipóteses, autoritário, irritante, movido pelo poder e perigoso. Mas sem essa qualidade não há o espírito de luta, como também não há a capacidade de melhorar as próprias condi­ções ou as das outras pessoas, pois não existe visão nem confiança para transformar essa visão em realidade.

O Rei de Paus pode ser caloroso e excitante, mas ele é inquestionavelmente egoísta e esse egoísmo essencial, para muitas pessoas, parece ser repreensível e negativo. Mas o rei Teseu é a incorporação do verdadeiro herói, pois a sua convicção é sempre de que a humanidade poderia ser muito melhor do que é.

No sentido divinatório, quando o Rei de Paus aparece em uma abertura de cartas, ele anuncia o momento em que o indivíduo deve encontrar essa dimensão da personalidade que dá início a novas ideias, conseguindo "vendê-las" a outros e gerando uma mudança na pró­pria vida e no ambiente que o cerca.

É o espírito de liderança, a crença de que sempre há uma ideia melhor que vale a pena ser promulgada e trabalhada para que seja manifestada. Essa dimensão da vida pode aparecer na forma de um indivíduo impulsivo que entra em nosso círculo de relacionamentos, alguém que contagia os outros com a força de suas ideias.

O fato de esse indivíduo entrar em nossa vida não é por acaso, mas é o prenúncio da nossa necessidade de desenvolvimento.