Livro - O Tarô Mitológico de Juliet Sharman-Burke e Liz Greene

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O NAIPE DE OUROS
As Cartas Numeradas

A história de Dédalo, o escultor e artesão ateniense que construiu o Labirinto para o rei Minos de Creta, é uma lenda sutil e o seu herói tem muitas nuances, pois ele não é um homem totalmente bom nem tampouco um vilão, mas uma curiosa mistura de ambos. Com o seu protagonista engenhoso e amoral, essa história é própria para o naipe de Ouros, porque ilustra os problemas, os desafios, as aspirações, as armadilhas e a complexa moralidade do esforço humano com os seus fracassos e as suas realizações. Dédalo descendia da casa real de Atenas e era um ferreiro maravilhoso, instruído pela própria deusa Atena. Ele passou a sua juventude aperfeiçoando suas habilidades e até dizem que foi ele quem inventou a serra e o machado, bem como foi o primeiro homem a colocar bra¬ços e pernas nas primitivas estátuas disformes dos deuses. Ainda jo¬vem, ficou famoso por sua engenhosidade e sagacidade.

Entretanto, esse sucesso prematuro estava malfadado, por seu mau caráter. Dédalo tinha um sobrinho chamado Talos que, apesar de ter 12 anos, começou a superar o seu dotado tio na arte de criar ferramentas e lindos objetos. Ainda criança, Talos inventou a roda do ceramista e o compasso.

Dédalo ficou incrivelmente ciumento e desesperado com esse conflito, pois, embora gostasse e admirasse seu sobrinho, em razão de sua ambição não podia tolerar o fato de sua própria reputação ser ameaçada dessa maneira. Então ele matou Talos jogando o garoto do alto do templo de Atena. Preso no momento em que escondia o corpo, Dédalo estava condenado, mas conseguiu fugir de Atenas antes que qualquer sentença lhe fosse imputada.

Ele se dirigiu para Creta e procurou e recebeu a proteção do rei Minos. Durante algum tempo, viveu com grandes favores em Knossos, a capital de Minos, criando maravilhosas arquiteluras para o rei e divertindo as crianças do palácio com brinquedos engenhosos. Foi então que a má sorte atingiu o rei Minos, com quem nos deparamos anteriormente na história da carta da Torre dos Arcanos Maiores.

Minos ofendera o deus Poseidon recusando-se a sacrificar um touro branco no altar do deus e Poseidon revidou fazendo com que Pasifae, a esposa do rei, se apaixonasse perdidamente pelo touro. Levada pela sua louca compulsão, Pasifae pediu que Dédalo encontrasse um meio pelo qual ela pudesse encontrar-se e copular secretamente com o touro. E, assim, Dédalo encontra-se novamente em um grande conflito, pois Minos era o seu protetor e patrono. Entretanto, estava claro que a mão do deus estava sobre Pasifae. Afinal, Dédalo optou pelo deus e construiu uma vaca de madeira na qual Pasifae entrou e copulou com o touro. Dessa união, nasceu o terrível e horrendo Minotauro, com cabeça de touro e corpo de homem.

Desconhecendo o envolvimento de Dédalo nessa concepção, o rei pediu ao artesão que construísse um esconderijo em que o monstro pudesse ser encerrado. Dédalo concordou em servir novamente o seu protetor e construiu os tortuosos corredores do Labirinto no qual, quem ali entrasse, estaria irremediavelmente perdido.

Mas quando o herói Jasão chegou à Creta para matar o Minotauro, a filha de Minos, Ariadne, apaixonou-se por ele e dirigiu-se a Dédalo para descobrir um meio de o herói entrar e sair do Labirinto. Novamente Dédalo traiu o seu mestre, preparando um novelo de fio dourado. Foi assim que, com Ariadne segurando a extremidade do novelo, Jasão penetrou nos escuros corredores do Labirinto, matou o Minotauro e voltou à luz do Sol são e salvo.

Dessa vez, o rei Minos descobre a traição de seu artesão e encerra Dédalo no Labirinto. Mas o ferreiro engenhosamente conse¬gue fazer um par de asas de cera de abelha, madeira e penas que a agradecida Pasifae lhe trouxe, levanta vôo do alto de uma das torres do Labirinto. Levado pelo vento, ele finalmente consegue pousar em Cumae, na costa da Itália.

Dali ele se dirige para a Sicília, onde recebe os favores do rei Cocalos. Furioso com a sua fuga, o rei Minos perseguiu Dédalo por toda a Grécia c Itália, levando consigo uma concha triton de formato cónico com um furo muito pequeno na ponta e, por onde passava, oferecia uma grande recompensa para quem conseguisse passar um fio de algodão através dela um feito que, ele sabia, somente Dédalo conseguiria realizar. E foi dessa maneira que o rei descobriu o seu esconderijo. Mas Cocalos não quis separar-se dele e ordenou que suas filhas derramassem óleo quente no banho de Minos e, assim, Dédalo conseguiu viver satisfeito e rico até atingir uma idade avançada.

Ás de Ouros

A carta do Ás de Ouros retrata um homem moreno e forte com longos cabelos encaracolados e uma cauda de peixe, emergindo das profundezas do mar e erguendo um grande pentáculo dourado. Ao seu redor, rochedos ricamente recobertos de vinhas com cachos de uva amadurecendo. A distância, um cenário de verdes e férteis colinas rodeando uma baía.

Aqui nos deparamos com o deus Poseidon, o qual encontramos na carta da Torre dos Arcanos Maiores. Poseidon era um dos filhos de Cronos e Réa e participou do destino de seus irmãos e irmãs, sendo engolido pelo pai ao nascer. Mas a bebida que Zeus serviu a Cronos fez com que ele regurgitasse todos os filhos que havia engo¬lido. Após a vitória sobre Cronos, a herança paterna foi dividida em três partes: Zeus tomou posse dos vastos céus; Hades, do sombrio Submundo; e Poseidon, dos mares, lagos, rios e de toda a superfície da Terra, visto que ela era apoiada sobre as suas águas e ele podia fazê-la tremer à vontade. Ele ficou famoso entre os deuses pelo seu anseio por terras e entrava em conflito com muitos deles por tentar apossar-se de ilhas e partes da costa da Grécia.

Poseidon era um deus da fertilidade, marido da grande Mãe-Terra e Senhor do Universo físico. Ele era chamado de "agitador da Terra" e venerado na forma de um touro, um grande animal preto com olhos flamejantes, que vivia nas entranhas da Terra; com suas pisoteadas ele fazia com que as montanhas se movessem e os mares inundassem a Terra. Portanto, Poseidon é uma das forças primitivas da natureza e, no Ás de Ouros, ele mostra o seu poder como o impulso de uma nova energia para a criação material.
Em contraste com o Ás de Paus, que se ergue como o nascimento de uma nova visão criativa, o Ás de Ouros volta a sua imensa potência criativa para a Terra, e essa emergente necessidade de concretizar c criar no mun¬do manifesto é aquela que dá suporte às nossas ambições materiais. O indivíduo que ambiciona riquezas e faz as coisas acontecerem em nível material experimenta algo do poder desse antigo deus terreno e o Ás de Ouros anuncia a erupção de uma nova ambição para a criação e o sucesso material.

No sentido divinatório, o Ás de Ouros prevê a possibilidade de uma realização material porque, agora, a energia primitiva para esse trabalho está disponível ao indivíduo. Muitas vezes dinheiro vêm na forma de uma herança ou de qualquer outra fonte, acompanhado da engenhosidade e da persistência em utilizar esses recursos efetiva e eficientemente.

O Dois de Ouros

A carta Dois de Ouros retrata Dédalo, um homem moreno, de cabelos castanhos e vestindo uma túnica ocre e um avental de couro, em sua oficina. À sua frente, a sua mesa de trabalho sobre dois pentáculos dourados. Em ambos os lados, em uma treliça de maneira, uma vinha cheia de cachos de uva. Atrás dele, um cenário de ricas colinas verdes. Em sua mão esquerda, Dédalo segura o machado que acabou de inventar e, em sua mão direita, uma serra, também invenção sua.

A imagem do Dois de Ouros retrata Dédalo em início de carrei¬ra, quando desenvolve as suas habilidades e cria a sua reputação entre os atenienses, aplicando a sua engenhosidade em novas in¬venções, investindo seus esforços em novos projetos e mantendo-se ocupado e ativo, trabalhando em várias coisas ao mesmo tempo. A figura apresenta um homem materialmente ambicioso que ainda é aberto a novas idéias criativas e disposto a assumir riscos para poder pôr em prática os seus talentos. Entretanto, essa flexibilidade pode desaparecer bruscamente ao ficarmos presos a uma estrutura de su¬cesso que conseguimos angariar; mas ela sempre estará presente no início e, quando o Dois de Ouros aparecer, poderá ser recuperada.

Portanto, o Dois de Ouros representa o estado de mudança ou de oscilação dos bens materiais. Essa flutuação não implica prejuízos, mas um fluxo de energia criativa dirigida a vários projetos. Aqui, o poder primordial do Ás de Ouros foi polarizado como em todos os Dois dos Arcanos Menores, e o impulso para a criação material deve ser fundamentado e canalizado.

O conhecido dito popular "dinheiro faz dinheiro" é bem apropriado para essa carta, pois é necessário assumir riscos e usar o capital para que ele trabalhe e produza antes da realização dos lucros. O Dois de Ouros exige flexibilidade e disposição para fazer dinheiro e energia trabalharem, e muitas vezes isso significa manipular e movimentar os recursos de uma maneira que, para o indivíduo inexperiente, isso possa parecer um risco desnecessário que provoca ansiedade. Entretanto, a carta do Dois de Ouros pode ser interpretada como "boa", pois, apesar de sugerir a necessidade de prudência nos assuntos financeiros, ela promete recompensas, porque a energia criativa está devidamente trabalhada e movimentada.

No sentido divinatório, o Dois de Ouros anuncia o momento em que dinheiro e a força motivadora podem ser disponibilizados em novos projetos que podem levar a um futuro compensador. Mas o indivíduo deve estar disposto em fazer trabalhar os recursos assumindo riscos e fazendo uso do capital, em vez de pensar em economizar justamente quando as novas oportunidades estão surgindo. Por conseguinte, a carta do Dois de Ouros pode ser favorável para aqueles que sabem lidar com o dinheiro.

O Três de Ouros

A carta Três de Ouros retrata Dédalo em pé em uma plataforma ou sobre um pódio, vestindo ainda a sua túnica ocre e avental de couro. À sua frente, três atenienses ricamente, mas não ostentosa¬mente, vestidos. Cada um lhe oferece um pentáculo dourado. Ao redor dos quatro homens, uma treliça com vinhas e um cenário de colinas verdes sob um céu claro e azul.

O Três de Ouros, comum a todos os Três dos Arcanos Menores, implica uma integração inicial, e aqui podemos ver Dédalo recebendo as primeiras recompensas por seus trabalhos. A integração inicial representa os primeiros estágios da concretização de um projeto que é parecida com a finalização da estrutura externa de um edifício antes que qualquer estrutura interna ou decoração tenha sido desenvolvida. Dédalo conseguiu uma posição firme no início de sua carreira, apesar de ainda não sabermos se ele poderá reforçar essa posição para fazer com que seja permanente. Pelo que sabemos do mito, ele não conseguiu. Portanto, a integração inicial do Três de Ouros não é o estágio final de um projeto.

Pode haver muito trabalho, dificuldade e risco antes de nos considerarmos materialmente seguros. O Três de Ouros dá motivos para comemorar, mas essa comemoração deve ser encarada com a conscientização de todo o trabalho que se encontra à frente. Na história de Dédalo, o fator que causa o colapso desse sucesso inicial não é material, mas uma deficiência de caráter do próprio homem.

Isso também precisa ser considerado ao avaliar o significado das cartas numeradas do naipe de Ouros, pois as recompensas materiais que esse naipe promete dependem não somente das específicas habilidades comerciais e da disposição de trabalhar com afinco, mas também do próprio caráter do indivíduo. A falta de habilidade em reconhecer seus próprios limites ou acreditar que o indivíduo possa fazer o que quiser no mundo material, sem considerar as consequências alheias, muitas vezes representa aquela deficiência fatal que pode levar ao colapso do sucesso inicial indicado pelo Três de Ouros.

Portanto, a mensagem dessa carta é: aproveite os primeiros resultados de seu trabalho, porém considere o futuro, não somente em termos do trabalho que ainda deverá ser feito, mas em termos de sua própria capacidade de execução.

No sentido divinatório, o Três de Ouros anuncia um período de sucesso inicial resultante de um esforço material. Um projeto pode render benefícios ou um empreendimento criativo, como o lança¬mento de um livro, pode apresentar um sucesso inicial no mercado.

Mas, como todos os Três das cartas numeradas, esse não é um resultado final, todavia um estágio no qual, por meio de grandes esforços, o indivíduo poderá ser levado a uma realização mais permanente.

O Quatro de Ouros

A carta Quatro de Ouros retrata Dédalo segurando firmemente em seus braços quatro pentáculos dourados. Ele olha com raiva para um garoto ocupado em sua mesa de trabalho - seu sobrinho Talos, vestido com uma túnica verde, de feições morenas e cabelos castanhos, concentrado em um lindo enfeite que ele está completando. Ao redor dos dois, uma treliça com vinhas bem carregadas e, no cenário, colinas verdes podem ser vistas a distância contra um céu claro e azul.

Às vezes, o Quatro de Ouros é chamado de carta do sovina, porque implica uma condição de ser apegado demais ao próprio dinheiro ou a uma situação material. Por causa desse apego, o fluxo de energia, sempre necessário ao naipe de Ouros para desenvolver o sucesso material, é prejudicado e começa a estagnar. Aqui podemos ver Dédalo correspondendo com raiva e ciúmes ao seu dotado sobrinho, que já o superou em habilidades com a sua pouca idade. Em vez de ir ao encontro desse desafio competitivo de maneira mais criativa, Dédalo escolheu reagir tentando agarrar-se por demais à situação do passado. Finalmente, isso leva à morte não somente de Talos, mas a destruição do próprio Dédalo.

O Quatro de Ouros não diz respeito unicamente ao apego excessivo ao dinheiro, pois ele é um símbolo e uma realidade objetiva, e é por meio do dinheiro que determinamos a nossa avaliação das coisas. Portanto, representa o nosso próprio valor, o preço que determinamos com relação à nossa própria expressão.

As recompensas que o indivíduo espera por suas habilidades também representam uma estimativa de avaliação de seus talentos em termos de valor e, por nos faltar frequentemente a compreensão do significado mais profundo do dinheiro em nossas vidas, presumimos que o próprio dinheiro seja responsável pela maioria dos males do mundo.

Os ensinamentos espirituais sugerem que o dinheiro seja intrinsecamente nocivo e corrupto, mas esses ensinamentos não definem uma distinção entre o objetivo real e o valor emocional que nele colocamos.

Portanto, o ciúme de Dédalo não diz respeito realmente ao empreendimento que ele poderia perder pelo fato de seu sobrinho criar objetos mais bonitos, pois devemos presumir que o mercado ateniense fosse grande o suficiente para prestigiar os dois; além disso, ele poderia ter usado o desafio de Talos como impulso para desenvolver ainda mais os seus próprios talentos.

Entretanto, o ciúme indica um problema em sua auto-estima, pois a auto-estima de Dédalo está embutida na fama dos objetos bonitos que ele faz e a perda do prestígio pode acarretar a perda da auto-estima. Por conseguinte, o Quatro de Ouros é uma carta sutil, pois não se refere unicamente à atitude mesquinha que faz com que o indivíduo fique muito apegado aos seus recursos, causando a estagnação da força motivadora e a impossibilidade de angariar ganhos futuros.

Essa carta também descreve o problema interior de falta de confiança e do medo em deixar fluir, o que pode resultar na estagnação, tanto material quanto emocional. Deixar a expressão emocional fluir livremente faz com que também os recursos fluam e o indivíduo apegado demais, aquele que não consegue delegar autoridade ou acumula e armazena elogios e generosidade, acaba criando um bloqueio tanto interno no amor quanto externo no dinheiro.

No sentido divinatório, o Quatro de Ouros adverte sobre uma atitude de apego exagerado às coisas ligadas ao nosso sentido de auto-estima. O medo da perda pode significar "não perder", mas também significa "não lucrar", pois há uma estagnação da criatividade que, eventualmente, não somente bloqueia dinheiro, mas também a auto-expressão sobre seus sentimentos e pensamentos.

O Cinco de Ouros

A carta Cinco de Ouros retrata Dédalo coberto com um manto remendado fugindo sorrateiramente da cidade onde há pouco tempo recebera tanta honra. Em uma colina atrás dele, está a sua oficina com a treliça enfeitada de vinhas e apresentando cinco pentáculos dourados - o sucesso que Dédalo deve abandonar atrás de si. O marrom das colinas faz parte do cenário árido e da estrada que Dédalo agora percorre. No céu escuro, aparece uma lua em sua fase minguante.

O Cinco de Ouros é uma carta de perda e podemos ver como ela segue naturalmente a resposta negativa ao desafio do Quatro de Ouros. Como Dédalo não podia adequar-se ao desafio da concor¬rência, procurou apegar-se à situação do passado e isso envolvia a única solução do assassinato de seu talentoso sobrinho. Agora ele foge de Atenas como um miserável, deixando para trás as recompensas de duros anos de trabalho.
Muitas vezes o Cinco de Ouros indica o perigo de um período de perda financeira, mas o mais relevante é que implica uma perda de autoconfiança. Como tantas vezes confundimos auto-estima com segurança material, um revés financeiro pode destruir a confiança material, assim como o sentido de direção do indivíduo e a fé em si mesmo.
Durante a queda desastrosa da bolsa americana em 1929, muitos indivíduos reagiram à catástrofe financeira cometendo suicídio - uma cruel resposta, se considerarmos a preciosidade da vida humana e, no entanto, uma reação compreensível, se pensarmos quantos são os muitos indivíduos que identificam sua auto-estima com o sucesso material. A mensagem do Cinco de Ouros é deixar fluir, porque a ocorrência de um desastre material pode significar que ele fosse necessário e a inevitável erradicação de uma atitude errada ou imprópria.

. O colapso de Dédalo acontece graças a uma deficiência fatal em seu caráter e a sua perda foi o único meio de perceber que o seu pior inimigo é ele mesmo.
Se as dificuldades materiais puderem ser consideradas dessa maneira, então os problemas refletidos pelo Cinco de Ouros podem resultar na transformação interior do indivíduo para que o futuro produza um renovado sucesso material, aliado a um centro interior mais sólido que lhe permitirá enfrentar os desafios que o sucesso traz consigo.

No sentido divinatório, o Cinco de Ouros prevê um período de dificuldade ou perda financeira. Isso pode ser acompanhado de uma perda de autoconfiança e é importante tentar corresponder ao desa¬fio deixando as coisas fluírem e preparando-se para um novo início, considerando também o exacerbado problema para o qual a nossa própria natureza nos levou.

O Seis de Ouros

A carta Seis de Ouros retrata Dédalo respeitosamente ajoelhado, suas mãos cruzadas em um gesto de súplica. A sua frente, sentado em um trono dourado está o rei Minos de Creta - um homem maduro de barba e cabelos pretos e tez morena, vestido em púrpura real e portando uma coroa dourada. Em suas mãos, o rei segura seis pentáculos dourados, que oferece a Dédalo em sinal de futuro apadrinhamento. Atrás do artesão ajoelhado e do trono real, os muros do palácio de Minos decorados com frisos pintados representando dançarinos e touros e as bordas com cachos de uva.
O Seis de Ouros é uma carta harmoniosa que reflete a renovação da fé que aqui acompanha a fuga bem-sucedida de Dédalo para Creta e o favorecimento da proteção do poderoso e rico rei Minos. Depois da catástrofe do Cinco de Ouros e suas implicações de perdas tanto de bens materiais quanto da confiança na vida e nas próprias habilidades, o Seis de Ouros promete uma recuperação proporcionada pela generosidade e pela caridade das pessoas.

O clima dessa carta não diz respeito a recompensas por trabalhos realizados, mas à benevolência. Às vezes, podemos contar com retribuições da própria vida, que nem sempre é cruel e que recompensa o indivíduo pelos seus grandes esforços.

Essa experiência da generosidade da vida surge do interior do próprio indivíduo e não da caridade de outras pessoas, pois descobrimos que é possível dar incondicionalmente, apesar dos nossos reveses e perdas.

Portanto, o significado mais profundo do Seis de Ouros toca em uma importante faceta da criação manifestada, porque nem tudo é consequência da vontade consciente ou do erro. As vezes, a boa sorte cruza o nosso caminho e, apesar de não podermos planejá-la ou esperá-la, geralmente ela sobre¬vêm no momento em que as nossas posses estão no mais baixo nível.

Dédalo não é uma pessoa totalmente ruim, apesar do crime que cometeu. Ele é um homem ambivalente, capaz de proporcionar tanto muitos benefícios quanto malefícios e, portanto, a vida não o julga da mesma forma que a sociedade o julgaria aqui representada pela ira dos atenienses. Ele sofreu por seu crime pela pobreza, pelo exílio e pela humilhação, e agora um novo ciclo se inicia, anunciado por um desses golpes de boa sorte que se apresenta na forma de bondade c de generosidade as nossas ou as dos outros.

No sentido divinatório, o Seis de Ouros prevê uma situação que promete dinheiro ou posses a ser compartilhados e dos quais o indivíduo será chamado a oferecer generosidade ou será objeto dela. E, assim, a fé na vida e na própria capacidade é readquirida.

O Sete de Ouros

A carta Sete de Ouros retrata Dédalo no palácio do rei Minos. A sua direita, em uma coluna pintada sobre a qual ele pousa a sua mão possessivamente, estão seis pentáculos dourados. A sua esquerda, está a rainha Pasifae vestida em túnicas de cor escarlate e portando uma coroa dourada sobre seus cabelos castanhos. Ela apresenta uma expressão de angústia e de desespero e oferece ao arquiteto um único pentáculo dourado. Atrás dela, a cara e os ombros de um touro branco.

O Sete de Ouros retrata a situação de uma difícil decisão. Pode¬mos ver Dédalo em uma posição de segurança material e de favoritismo real representados pelos seis pentáculos dourados a seu lado. Ele trabalhou muito para conseguir o seu lugar na corte de Minos e pode estar honestamente orgulhoso do novo edifício que construiu da ruína representada pelo Cinco de Ouros e do golpe benévolo do Seis de Ouros.
Mas agora um novo fator entrou na história: uma proposta que pode ser ainda melhor do que todas as recompensas passadas ou que podem levá-lo à ruína total. Aliar-se à rainha Pasifae significa trair o seu protetor, mas ao mesmo tempo significa favorecer a von¬tade do deus Poseidon que, como um deus, pode tornar-se uma escolha e uma aliança muito mais sensata.

Simplificando, a escolha de Dédalo retratada pelo Sete de Ouros reflete uma situação em que somos chamados a decidir entre a se¬gurança de tudo o que já construímos e as possibilidades duvidosas e incertas de outra direção que pode ou não levar ao sucesso futuro. Um pólo representa a escolha segura, apesar de essa situação envolver o perigo da estagnação e até de uma fatalidade, se algo "divinamente inspirado" for rejeitado a favor do que é seguro, mas faltando-lhe vitalidade. O outro pólo representa algo possivelmente arriscado, até perigoso e talvez "imoral" no sentido de como foi considerado pela opinião pública.

Entretanto, essa nova possibilidade perigosa contém uma força vital e um potencial de crescimento que podem ser muito mais fa¬voráveis do que as recompensas do caminho seguro.

Assim, o Sete de Ouros representa uma situação que, cedo ou tarde, acontece com todos os indivíduos que tentam manifestar energia criativa no mundo. O esperado sucesso pode ser alcançado, mas, juntamente com ele, o espírito juvenil do risco é geralmente despercebido e pode haver um limite ao que podemos realizar por meio de um só canal. O problema é enveredar ou não por esse novo caminho oportunidade e arriscar-a perder tudo o que foi acumulado.

No sentido divinatório, o Sete de Ouros prevê um período em que uma difícil decisão de trabalho deve ser tomada. Cuidado e previsão são necessários e a pergunta surge: se deveríamos continuar desenvolvendo o que já construímos ou empenharmos energia em um novo projeto.

O Oito de Ouros

A carta Oito de Ouros retrata Dédalo em sua oficina nos recintos do palácio do rei Cocalos, na Sicília. Aos seus lados, ricos cachos de uva decoram os postes de madeira. Atrás dele, um cenário de montanhas verdejantes que leva para o mar. Aos pés do ferreiro, sete pentáculos dourados, ainda inacabados, esperam ser terminados. Na mesa de trabalho à sua frente, um único pentáculo dourado ao redor do qual Dédalo entalha uma borda elaborada.

O Oito de Ouros apresenta Dédalo novamente como um aprendiz, trabalhando com afinco no desenvolvimento de suas habilidades. Aqui se implica o natural resultado do Sete de Ouros: Dédalo optou por favorecer o deus e, conseqúentemente, um novo caminho abre-se para ele, no qual novas habilidades devem ser adquiridas para que o projeto possa florescer e dar frutos.

O Oito de Ouros é a carta do aprendiz, porém, diferente do Dois de Ouros, na qual vimos o artesão manipulando as suas energias e desenvolvendo os seus talentos por meio da movimentação de fundos e de recursos, o Oito de Ouros não implica instabilidade. Aqui, podemos ver o espírito de dedicação e uma energia dirigida para um objetivo.

Muitas vezes, o entusiasmado espírito é acompanhado de um novo evento, principalmente se este for totalmente diferente do que foi feito anteriormente. De muitas maneiras, o Oito de Ouros coincide com o período da vida que a Psicologia considera como "crise de meia-idade", pois, de certa forma, o Sete de Ouros a representa: o que éramos tornou-se insípido e superado; no entanto, o novo ciclo envolve, muitas vezes, ansiedade e medo de perder toda a estabilidade que construímos. Mas, se essa transição for executada com sucesso, poderemos ver a energia renovada do Oito de Ouros, que implica não somente entusiasmo na aquisição de novas habilidades, mas também a realização de que não exaurimos todos os nossos potenciais e que podemos ainda continuar crescendo, manifestando novos empreendimentos. No sentido divinatório, o Oito de Ouros anuncia um período no qual o indivíduo interpreta o papel do aprendiz que se esforça em adquirir uma nova habilidade. Essa carta sugere um talento recente¬mente descoberto que merece os esforços do desenvolvimento ou implica um passatempo que pode ser transformado em uma profis¬são. O indivíduo pode experimentar um grande entusiasmo e interes¬se por um novo campo de trabalho, no qual deverá começar como um aprendiz esforçado, muitas vezes em um período da vida em que ele já deveria estar firmemente estabelecido.

O Nove de Ouros


A carta Nove de Ouros retrata Dédalo com suas mãos cruzadas em uma postura e sorriso de satisfação. Ele abandonou a sua túnica ocre e avental de couro e agora veste um traje ocre borda¬do a ouro; em sua cabeça, uma coroa de louros. Aos seus lados, vinhas carregadas de cachos de uva sobem por uma treliça e, mais distante, um cenário de montanhas verdejantes e um calmo mar azul. Junto ao artesão, amontoados no chão, nove pentáculos dourados. O Nove de Ouros retrata um estado de grande auto-satisfação. Dédalo arriscou-se em um empreendimento perigoso, trabalhou com afinco para desenvolvê-lo, assumiu os riscos, sofreu os consequentes perigos e agora admira as recompensas que dignamente mereceu.

A importância e a diferença do Nove de Ouros são que o prazer do artesão não se refere ao aplauso e ao reconhecimento público. Essa é a satisfação solitária da realização de coisas boas, o prazer da auto-suficiência e a realização decorrente dos próprios esforços. Dédalo pode dizer honestamente "eu consegui à minha maneira", pois sua adquirida riqueza é realmente um símbolo do sentido de auto-estima que somente pode decorrer do interior do indivíduo. O artesão fez as pazes com o seu passado obscuro e com seu período de perda e de exílio; ele também conseguiu enganar o rei Minos que o perseguiu em razão da sua decisão de ajudar a rainha e seguir a vontade do deus Poseidon.

O perigo agora ficou no passado e Dédalo pode sentir satisfação pelos seus esforços e sua astúcia que asseguraram a sua sobrevivência, riqueza e posição pelo resto de sua vida. Portanto, o Nove de Ouros é uma carta de recompensa e de realização aos nossos próprios olhos, sabendo que, mesmo que ninguém reconheça o valor do que foi realizado, é bem merecido ser reconhecido por nosso próprio interior. Há uma permanência e uma indestrutibilidade acerca da satisfação representada pelo Nove de Ouros que não está presente em qualquer outra carta dos Arcanos Menores. Essa satisfação depende de nada e de ninguém além de nós mesmos. Uma vez estabelecida, não pode ser destruída, mesmo que toda a riqueza nos seja retirada.

O Nove de Ouros é mais do que uma carta de realização material. Em um sentido mais sutil, ela impli¬ca a descoberta de um sentido profundo e permanente de auto-esti¬ma, angariado por meio do trabalho árduo ao enfrentar os desafios da vida no nível material e sobrevivendo a todos. . No sentido divinatório, o Nove de Ouros prevê um período em que o indivíduo pode estar honestamente satisfeito consigo mesmo e com o que conseguiu realizar. Muitas vezes, há um forte sentido de identidade, um sentimento de nossas habilidades especiais e o valor de nossa própria vida.
Essa carta reflete a satisfação solitária e auto-suficiente das coisas boas realizadas que não dependem da concordância e da aprovação de qualquer pessoa para promover o prazer e a profunda satisfação.

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O Dez de Ouros


A carta do Dez de Ouros retrata Dédalo como um homem velho, com cabelos grisalhos. Ele está confortavelmente sentado com os netos ao seu redor: o patriarca e fundador de uma linhagem. Aos seus lados, pendurados em colunas recobertas de vinhas, dez pentáculos dourados, cinco de cada lado. Em seu colo, uma criança brincando com um chocalho dourado. À sua esquerda, encontra-se uma mulher com cerca de 30 anos, vestida de verde e portando um lindo colar dourado. Aos seus pés, um garoto de 10 anos brinca com um cavalo dourado. Em um cenário distante, ricas montanhas verdejantes e um calmo mar azul.

O Dez de Ouros retrata uma situação de permanência que sobre¬vive à vida de um único indivíduo. Aqui, seguro em sua posição na corte do rei Cocalos da Sicília, o artesão finalmente depositou as suas raízes e fundou uma dinastia. Agora, ele pode transferir e passar adiante tanto a sua fortuna e seu poder quanto as suas realiza¬ções ao chegar o momento de sua despedida definitiva, seguro em seu conhecimento de que o seu trabalho lhe sobreviverá.

Os objetos dourados que ele fabricou, o chocalho, o colar e o cavalo de brinquedo, são os seus presentes ao futuro, para que o processo de manifestação, representado em todas as cartas do naipe de Ouros, consiga a sua conclusão natural, em uma imagem de permanência que forma a contribuição individual das gerações futuras.
De certa forma, este é o significado mais profundo do processo da manifestação de ideias criativas, pois toda a vida individual é transitória e nenhum ser humano vive para sempre. No entanto, o sentido de profunda satisfação e de realização pode ser alcançado pela rea¬lização de que podemos construir alguma coisa duradoura para o mundo futuro.

Para o naipe de Paus, a imortalidade está na imaginação e para o naipe de Espadas, está no poder divino da mente; para o naipe de Copas, ela está na experiência do amor que toca o transpessoal. Mas, para o naipe de Ouros, somente o que está aqui é real e é esse sentimento de o indivíduo ter deixado uma marca e que a passagem pela vida não foi um simples pestanejar insignificante que logo desaparece, que muitas vezes forma o núcleo do que chamamos de ambição material.

Por conseguinte, a aparente ambição e o materialismo associados com esforços materiais, vêm de uma necessidade humana de oferecer uma parte de si mesmo à vida como indicador permanente de nossa passagem por ela.

Uma vida plena como foi a de Dédalo, com suas boas e más ações e uma disposição para enfrentar os desafios independentemente das consequências em vez de ficar morgando pacificamente na cama, pode levar à experiência de ter plenamente realizado um destino, deixando alguma coisa para ser passada às gerações futuras.

. No sentido divinatório, o Dez de Ouros sugere um período de contínuo contentamento e segurança. O sentido de algo permanente foi estabelecido e pode ser transferido a outras pessoas. Isso pode se referir a uma herança material de riquezas ou de propriedades, ou pode ser na forma de uma realização artística, como um livro ou uma pintura que sobreviverá e apresentará o seu valor, independentemente do nosso próprio tempo de vida.

O Pajem de Ouros


A carta do Pajem de Ouros retrata um garoto de cerca de 12 anos com cabelos castanho-escuros e tez morena, vestindo uma túnica verde. Ele se encontra no meio de um fértil campo arado do qual começa a brotar uma variedade de verduras, flores e ervas. Ele segura um pentáculo dourado com as duas mãos. Acima dele, um céu azul-pálido.

Na carta do Pajem de Ouros, deparamo-nos com o elemento Terra em seu delicado e frágil início a consciência nascente dos Sentido, da natureza e da capacidade de manifestar coisas no mundo.

Ela é representada pela figura mitológica do garoto Triptólemo, filho do rei Celéu de Elêusis.

Um dia, o garoto e seus irmãos estavam ajudando o pai em seu trabalho nos campos; Triptólemo cuidava do gado, enquanto seus dois irmãos cuidavam dos carneiros e dos porcos. Foi então que os três presenciaram uma estranha cena. De repente, a terra abriu-se em uma fenda, engolindo todos os porcos do rei Celéu. Depois apareceu uma carruagem puxada por dois cavalos pretos que desceu pela fenda. O rosto do condutor não era visível, mas o seu braço direito segurava uma garota que gritava em desespero.

O que os três irmãos presenciaram foi o rapto de Perséfone pelo obscuro deus Hades, senhor do Submundo, cuja história foi apresentada na carta da Imperatriz e da Sacerdotisa dos Arcanos Maiores.

A mãe de Perséfone, Deméter, percorreu incansável o mundo todo em busca de informações sobre o desaparecimento de sua filha. Quando ela chegou disfarçada de Elêusis, somente o garoto Triptólemo a reconheceu e lhe forneceu a informação de que ela precisava. Por seu ato de bondade, a Mãe-Terra recompensou Triptólemo ensinando-lhe primeiro a venerá-la e essencialmente aos mistérios da Natureza, a morte e a regeneração da vida por meio dos ciclos das quatro estações. Ela entregou ao garoto sementes de milho, um arado de madeira e uma carruagem puxada por serpentes, e o instruiu a viajar pelo mundo ensinando à humanidade a arte da agricultura.
Triptólemo, o Pajem de Ouros, é a imagem dos primeiros e delicados esforços para se relacionar com o mundo sensual que deve emer¬gir antes que qualquer maior ambição material possa ser empreendida. Como é próprio de todos os Pajens dos Arcanos Menores, o Pajem de Ouros é um botão de flor, um pequeno início, e, como todos os botões, esse gentil c delicado início de reconhecimento do valor do mundo material deve ser alimentado e protegido para não ser pisado pela insignificância e pela negligência.

Muitas vezes, o Pajem de Ouros pode sugerir o interesse prematuro em algum passatempo novo que começa como mera ideia ou entusiasmo, mas que, incentivado e de¬senvolvido paulatina e pacientemente, pode eventualmente se tornar uma vocação plena que pode resultar em recompensas materiais, afetivas e realizações. Todos nós experimentamos esses pequenos entusiasmos, mas quantos de nós os seguimos realmente, tentando antes os primeiros passos necessários que nos levem a algo maior?
Triptólemo, o Pajem de Ouros, é uma criança séria, responsável e trabalhadora como poucas crianças; com sua pouca idade, ele é encarregado do gado de seu pai, em vez de brincar com as outras crianças.

Assim, a energia do Pajem de Ouros precisa ser tratada gentil e seriamente. Dessa mesma maneira, a imagem de Triptólemo pode refletir os inícios delicados da sensualidade emergente, principalmente se em toda a sua vida o indivíduo subestimou essa dimensão de experiência. Os inícios da percepção sensual em um temperamento mais intelectual ou imaginativo podem passar despercebidos ou rejeitados; no entanto, o mito de Triptólemo sugere que, se a vida do corpo é reconhecida e valorizada, assim como o garoto reconhece os valores da deusa Deméter, grandes recompensas podem surgir no futuro.

Para muitas pessoas, a percepção do corpo toma a forma de um desejo de cuidar melhor de si mesmo por meio de uma dieta ou de exercícios, ou buscando mais tempo para relaxar, ou ainda pelo interesse em jardinagem ou mesmo cuidando de animais, ocupações que levam a um relacionamento mais profundo e mais forte com a própria terra.

Nota: Os ‘Mistérios de Elêusis’ eram ritos de iniciação ao culto das deusas agrícolas Demeter e Perséfone, que se celebravam em Elêusis, localidade da Grécia próxima a Atenas. Eram considerados os de maior importância entre todos os que se celebravam na antiguidade. Estes mitos e mistérios se transferiram ao Império Romano e sinais dele podem ser notados em práticas iniciáticas modernas. Os ritos e crenças eram guardados em segredo, só transmitidos a novos iniciados.Deméter e sua filha, Perséfone, (Ceres e Proserpina para os romanos), presidiam aos pequenos e aos grandes mistérios. Daí seu prestígio. Muitos desses mistérios ainda não foram desvendados; no entanto, no grande complexo de templos de Elêusis, notadamente no grande Templo de Deméter, o Telesterion, os estudiosos têm descoberto esculturas e pinturas em vasos que representam alguns desses ritos.Os mistérios eleusinos celebravam o regresso de Perséfone, visto que era também o regresso das plantas e da vida à terra, depois do inverno. As sementes que ela trazia significavam o renascimento de toda a vida vegetal na primavera.Se o povo reverenciava em Deméter a terra-mãe e a deusa da agricultura, os iniciados viam nela a luz celeste, mãe das almas e a Inteligência Divina, mãe dos deuses cosmogânicos. Os sacerdotes de Elêusis ensinaram sempre a grande doutrina esotérica que lhes veio do Egito. Esses sacerdotes, porém, no decorrer do tempo, revestiram essa doutrina com o encanto de uma mitologia plástica, repleta de beleza. O mito simboliza o lançar sementes à terra e o brotar de novas colheitas, uma espécie de morte e ressurreição. No seu sentido íntimo, é a representação simbólica da história da alma, de sua descida na matéria, de seus sofrimentos nas trevas do esquecimento e depois sua re-ascensão e volta à vida divina.
(fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mist%C3%A9rios_de_El%C3%AAusis)

O Cavaleiro de Ouros

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A carta do Cavaleiro de Ouros retrata um jovem forte de cabelos castanhos, montado em um grande cavalo marrom. Ele veste uma túnica verde-limão, uma armadura e um elmo em couro marrom. Em sua mão direita ele segura um pentáculo dourado e, em sua esquerda, um feixe de trigo. Ao seu redor, ovelhas espalhadas em grandes pastos verdejantes e um pequeno bosque de oliveiras com colmeias. Acima dele, um céu de azul-brilhante. Na carta do Cavaleiro de Ouros deparamo-nos com a dimensão laboriosa, versátil e mutável do elemento Terra que está cm constante movimento. Ele é representado pela figura mitológica de Aristeu, chamado de "Guardião dos Rebanhos".
Aristeu era filho do deus-Sol Apolo e de uma mortal chamada Cirene. Ainda criança, ele foi en¬tregue à Mãe-Terra, que o alimentou com néctar e ambrósia. As dríades ou três ninfas ensinaram Aristeu como coagular o leite para fazer queijo, construir colmeias e fazer a oliveira produzir a azeitona cultivada. Ele ensinou essas artes úteis às pessoas enquanto jovem ainda, viajando incessantemente pela África do Norte e Grécia, e angariando honras em seu caminho.

Quando Aristeu alcançou a maturidade, as Musas lhe ensinaram as artes da cura e da profecia, e o encarregaram de vigiar suas ovelhas que pastavam na Planície de Ftia. Foi ali que ele aperfeiçoou a arte da caça. Um dia Aristeu consultou o oráculo de Delfos, de seu pai Apolo, que lhe disse para visitar a Ilha de Keas (atual Zea ou Tzia), onde ele seria muito prestigiado. Embarcando imediatamente, Aristeu soube que uma praga havia atingido os ilhéus, pelo fato de criminosos secretos haverem se infiltrado entre eles. Aristeu condenou à morte os criminosos e a praga foi eliminada. Os keanos cumularam-no de gratidão. Ele então visitou a Arcádia e mais tarde a cidade de Tempe, na Tessália, onde as suas abelhas começaram a morrer e ele foi avisado por sua mãe a visitar o velho deus marinho Proteu, que era profeta, e forçá-lo a explicar o motivo da catástrofe. Aristeu saiu à sua procura e, encontrando-o, capturou-o. Forçado a responder, Proteu disse que a doença das abelhas foi causada por um infeliz episódio amoroso que resultou na morte acidental da mulher.

Em vista disso, Aristeu estava sendo castigado pelos deuses. Como reparação, ele ofereceu vários animais em sacrifício às divindades ofendidas, e das carcaças desses animais surgiu um enxame de abelhas que ele capturou e colocou em suas colmeias. Então, continuou suas viagens para a Líbia, dali para a Sardenha e, final¬mente, para a Sicília. Depois se dirigiu para a Trácia, ainda irrequieto e em busca de outras tarefas. E, finalmente, fundou uma cidade com o seu nome, onde morreu respeitado por sua sabedoria. Aristeu, o Cavaleiro de Ouros, é a imagem da capacidade huma¬na pelo trabalho e pelo serviço diligente. Ele não é realmente um herói, pois não enfrenta dragões ou missões perigosas, e o seu maior desafio é a cura de abelhas doentes. Mas, assim mesmo, ele é uma figura poderosa e criativa. A personalidade de Aristeu é aquela do amante do campo e amigo dos animais e das criaturas selvagens, considerando que todo trabalho é importante, desde que sirva a vida da Natureza. Apesar da limitação de seus objetivos, Aristeu nunca pôde ser acusado do grandioso orgulho que aflige tantos heróis gregos e que é a causa tanto de sua glória quanto de sua queda.

Ele é bondoso e confiável, com vontade de trabalhar com afinco nos assuntos que lhe dizem respeito.Apesar de quase todas as figuras da mitologia grega serem culpadas de estupro, sedução, assassinato ou outro crime qualquer (psicopatas?), é peculiar o fato de Aristeu aceitar de boa vontade uma missão cansativa e detalhada, cumprindo-a impecavelmente a fim de beneficiar algumas abelhas.

Aristeu representa o nosso lado humilde o suficiente para relacionar-se com as formas mais humildes da vida e que está sempre pronto a aprender mais sobre as facetas variadas e complexas da Natureza. O Cavaleiro de Ouros não é fascinante, mas é capaz de satisfação, porque as suas realizações são sempre cingidas de realismo e de objetivos humildes. Essa é a qualidade que nos permite aceitar de bom grado a tarefa que pode ser aborrecida e que oferece muito trabalho. Ele desempenha criteriosamente as tarefas da vida cotidiana. Aristeu não tem nenhuma pretensão à divindade e, no entanto, é filho de um deus e, depois de sua morte, ele foi venerado como divino.

No sentido divinatório, quando o Rei de Ouros aparece em uma abertura de cartas, chegou o momento de o indivíduo desenvolver a dimensão da personalidade que está confortável e firmemente anco¬rada nas tarefas cotidianas da vida. O Cavaleiro de Ouros pode en¬trar em nossa vida como um jovem trabalhador, humilde e gentil, faltando-lhe talvez imaginação, mas rico nas qualidades de confiabilidade e gentileza. Se essa pessoa entrar em nossa esfera de relacionamentos, isso pode ser interpretado como uma oportunidade para aprender mais a respeito desse nosso lado pelo cataclismo de outra pessoa.

A Rainha de Ouros


A carta da Rainha de Ouros retrata uma linda mulher com ricos cabelos e olhos castanhos, vestindo uma túnica sensual castanho-avermelhada e portando uma coroa dourada na cabeça. Ela está sentada em um trono em cujos braços estão entalhadas cabeças de touros. Em sua mão direita ela segura um pentáculo dourado e, na esquerda, um cacho de uvas. Ao seu redor, pastos maduros, verdes e dourados, nos quais um rebanho de gado pode ser visto pastando. Na carta da Rainha de Ouros, deparamo-nos com a dimensão receptiva, estável e sensual do elemento Terra.
Ela é representada pela figura mitológica da Rainha Ônfale, cujo nome significa "umbigo". Ela aparece no ciclo de histórias que se referem ao herói Héracles que, em uma fase pior de sua carreira, foi levado para a Ásia para ser vendido como escravo, um Héracles bem diferente daquele com o qual nos deparamos na carta da Força dos Arcanos Maiores.

Ele foi comprado por Ônfale, rainha da Lídia, uma mulher que tinha bons olhos para um bom negócio; e ele a serviu fielmente durante três anos, livrando a Ásia Menor dos bandidos que infestavam aquela terra.

Ônfale havia herdado o reinado de seu falecido marido e o governava com capacidade, graças ao seu caráter pragmático, voltado para objetivos práticos, realista e poderoso.

Ela comprou Héracles com o intuito de torná-lo seu amante, em vez de um lutador, e lhe deu três filhos. Ela aproveitava o máximo de seu tempo, com toda a indulgência com o herói. Informações chegaram à Grécia de que Héracles havia desistido de sua pele de leão, trocando-a por colares de pedras preciosas, braceletes de ouro, turbante de mulher, xale vermelho e um cinto de mulher. Conta também a história que ele ali ficava sentado fiando lã e tremendo quando a sua patroa o repreendia. Ele deixava que as escravas de Ônfale o penteassem e que pintassem suas unhas, enquanto ela vestia a sua pele de leão e carregava o seu cajado e o seu arco.

Certo dia, o casal visitava algumas vinhas e o deus Pan, com o qual já nos deparamos na carta do Diabo dos Arcanos Maiores, viu-os e apaixonou-se por Ônfale. O deus, metade bode, deu adeus às suas ninfas e declarou amor eterno à rainha da Lídia.
Quando o casal se retirou para uma caverna para passar a noite, Ônfale sugeriu que trocassem de roupa. À meia-noite, Pan entrou na gruta, encontrou alguém com as roupas que acreditava fossem da rainha e tentou estuprar quem veio a ser um furioso Héracles. O herói chutou Pan pela caverna toda e, depois, ele e Ônfale riram até chorar vendo o deus Pan, sentado em um canto, cuidando de suas feridas. Daquele dia em diante, Pan passou a odiar vestidos e sempre convoca os seus oficiais nus para os seus rituais.

Ônfale, a Rainha de Ouros, é a imagem do poder e da sensualidade feminina que pode escravizar até um bruto selvagem como Héracles. Em um sentido, ela representa a sensualidade do próprio corpo, dali o seu nome, pois os gregos acreditavam que o centro da paixão estava no umbigo, que está presente tanto no homem quanto na mulher. Isso não é simplesmente o desejo por satisfação física, mas uma força primordial que possui dignidade e poder.

Ao servir a Rainha Ônfale, Héracles passa por uma espécie de iniciação e nós também, ao nos depararmos com a Rainha de Ouros dentro de nós mesmos, devemos curvar-nos diante do poder dos instintos e reconhecer que até a mente mais privilegiada e a espiritualidade mais rara existem em um corpo feito de terra.

Entretanto, Ônfale não é simplesmente uma sensualista. Ela é uma governante em seu próprio direito, preparada para ser generosa, mas sempre pragmática e protetora de sua própria riqueza e território. A sua compra do herói como amante não foi realizada por falta de outros amantes, mas porque ela queria o melhor. Dessa maneira, ela também pode ser interpretada como a imagem da auto estima, porque Ônfale trata de si e de seu corpo da mesma forma que trata o seu reino, com pródigo cuidado e generosidade. Ela possui a resistência e a estabilidade da própria terra e, apesar do fato de que a sensualidade por si só não pode preencher uma vida, Ônfale é uma imagem de grande importância e valor.

No sentido interior, quando a Rainha de Ouros aparece em uma abertura de cartas, é chegado o tempo para o indivíduo aprender a respeito de sua própria sensualidade, do valor do corpo e da importância daqueles prazeres que preservam e enriquecem a vida.
O indivíduo também pode ser chamado para aprender a sustentar e a preservar recursos materiais, manter condições estáveis, assegurar e acumular dinheiro e energia.
A Rainha de Ouros pode entrar em nossa vida como uma mulher forte e sensual, autosufíciente e trabalhadora e, no entanto, generosa e disposta a entregar-se aos desejos próprios ou de outros, se isso fizer parte de seus propósitos. Mas, se essa mulher entrar em nossa vida, sugere que essas qualidades tentam emergir de dentro de nós mesmos.

O Rei de Ouros

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A carta do Rei de Ouros retrata um homem de tez morena, barba e cabelos castanhos, forte e obviamente satisfeito com sua poderosa posição na vida.Ele está sentado em um trono dourado cujos braços estão entalhados com cabeças de bodes. Atrás dele, um castelo fortificado em alvenaria e enfeitado com cachos de uva. Na frente do castelo, os seus serviçais prontos para atendê-lo. Em suas mãos, um pentáculo dourado e, aos seus pés, um monte de moedas de ouro, pequenos pentáculos representando o seu acúmulo de bens materiais. Ele está ricamente, mas sobriamente vestido com brocado dourado e porta uma coroa dourada na cabeça. Na grama ao seu lado, um bode pastando.

Na carta do Rei de Ouros, deparamo-nos com a dimensão ativa e dinâmica do elemento Terra. Ela é representada pelo mitológico rei Midas, o rei da Macedônia, amante dos prazeres. Em sua infância, uma procissão de formigas foi observada carregando grãos de trigo e, subindo pelo lado de seu berço, colocavam os grãos em seus lábios enquanto dormia, um prodígio que os adivinhos interpretaram como um presságio de grande riqueza em seu futuro.

Midas governou como um rei sábio e piedoso, e a sua bondade para com o embriagado sátiro Silenos, tutor do deus Dioniso, valeu-lhe a gratidão do imprevisível deus. Dioniso ofereceu a Midas conceder-lhe um desejo, ao qual respondeu sem hesitar: "Peço que tudo o que eu toque se torne ouro". O rei logo se arrependeu dessa imprudência, pois não somente as pedras, as flores e os móveis de sua casa se transformavam em ouro, como também o alimento que comia e a água que bebia. Midas logo pediu que fosse liberado de seu pedido porque estava rapidamente morrendo de fome e de sede. Apesar de se divertir com o ocorrido, Dioniso teve compaixão e disse a Midas para visitar a fonte do Rio Pactolo (Turquia), na qual Midas se banhou e imediatamente se livrou de seu toque de ouro, mas as areias desse rio têm o brilho do ouro até hoje.

Midas, o Rei de Ouros, é a imagem da ambição humana. Ele é a nossa aspiração ao status e à realização material, o nosso desejo por poder e reconhecimento aos olhos do público, a nossa necessidade por segurança material e o nosso orgulho pelo trabalho empreendido para conseguir o que possuímos.

Essa ambição também é o espírito dinâmico, pois não se trata da satisfação do conforto, mas da necessidade de desafios.Nesse mito, Midas faz por merecer a recompensa do deus Dioniso com seu ato de bondade, a sua consideração pelo velho sátiro embriagado que era desprezado e ridicularizado por todos. Isso aponta para uma importante verdade a respeito do sucesso material: ele não somente depende de trabalho árduo e de inteligência, mas também do reconhecimento e da compreensão daqueles aspectos do comportamento humano que são preguiçosos, indolentes, embriagados bestiais.

Somente por meio da tolerância e do con¬trole desses aspectos, retratados pelo velho sátiro, é que os fundamen¬tos do poder e da autoridade do mundo podem ser assegurados, pois, do contrário, o indivíduo pode ser corrompido simplesmente porque ele não tem consciência de seu próprio potencial de corrupção.

O Rei de Ouros conseguiu chegar ao topo por causa das suas qualidades de liderança, autoridade, realismo e disciplina que fizeram com que superasse os obstáculos em seu caminho. Mas, como suge¬re o mito, ele também deve aprender uma lição difícil a respeito de sua própria ganância. Midas já possui o suficiente e muito mais; ele é um rei poderoso e rico além de que seus trajes não são exatamente maltrapilhos, ele anda trajado de acordo.

Ele tem o direito de ser ambicioso, mas essa ambição não deve ser colocada acima de tudo ou morrerá de fome e de sede. Havendo aprendido essa lição, o rei agora se satisfaz com as compensações que já conseguiu. Ele é um materialista descarado e, quando encontramos essa figura em nós mesmos, deparamo-nos com o nosso próprio materialismo, mesmo que anteriormente acreditássemos ser idealistas abominando essa espécie de grosseria.

Esse rei é saudável e forte, apesar de que, como cm todas as cartas do Taro, não podemos ficar presos em uma única faceta da vida, e o encontro com a ambição material e com seus desafios e compensações ainda pode ser produtivo e curador -mesmo que isso signifique que devamos, de alguma forma, experi¬mentar a dura lição de Midas.

No sentido divinatório, quando o Rei de Ouros aparece em uma abertura de cartas, ele anuncia que chegou o tempo de o indivíduo enfrentar os desafios materiais. Mas movimentos interiores muitas vezes precisam de um catalisador e, portanto, o Rei de Ouros pode entrar em nossa vida na forma de um indivíduo materialista, forte e bem-sucedido alguém que tenha o "toque de Midas", o dom de manifestar idéias materiais criativas. Entretanto, esse indivíduo é um simples catalisador para o desenvolvimento material de nossa própria autoconfiança.